Na noite do último sábado (21), o planeta foi sacudido por uma ação militar que, embora pontual, tem potencial explosivo: os Estados Unidos bombardearam três instalações nucleares estratégicas do Irã. Em uma manobra coordenada com Israel, aviões B‑2 Spirit lançaram mísseis sobre os complexos de Fordow, Natanz e Isfahan - centros simbólicos e operacionais do programa nuclear iraniano.
O presidente americano Donald Trump não titubeou: "Fordow foi obliterada", declarou, em tom que mistura triunfo militar e aviso direto a Teerã. O Irã, por sua vez, confirmou os ataques e acusou os EUA de violarem todas as normas internacionais. Mas, talvez mais preocupante do que a destruição de instalações, seja o colapso iminente da diplomacia nuclear que por anos buscou conter o maior medo do Ocidente: um Irã atômico.
Segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), os ataques comprometeram estruturas essenciais nos três centros. Em Natanz, o sistema elétrico foi parcialmente destruído. Em Fordow, alvo mais protegido e subterrâneo, os danos ainda estão sendo avaliados, mas acredita-se que partes do complexo acima do solo foram severamente atingidas. Em Isfahan, onde se concentra o processamento químico de combustível nuclear, quatro edifícios foram danificados - incluindo um laboratório de conversão de urânio.
Fontes diplomáticas ocidentais relatam que os alvos foram calculados para evitar vazamento radioativo. E, até o momento, os níveis de radiação permanecem estáveis nas áreas externas. Mas há risco interno. Especialistas da ONU alertam para o perigo de contaminação com produtos altamente tóxicos, como o gás UF6 (hexafluoreto de urânio), utilizado na cadeia de enriquecimento.
Embora o governo dos EUA afirme que a ação foi pontual, “limitada” e “estrategicamente defensiva”, os sinais geopolíticos apontam para um novo capítulo de instabilidade. O Irã prometeu retaliação. A diplomacia europeia, em pânico, já se mobiliza para tentar conter a escalada.
Para muitos analistas, o ataque representa o fracasso completo dos mecanismos de contenção diplomática. Desde a retirada dos EUA do Acordo Nuclear de 2015 (JCPOA), durante o primeiro mandato de Trump, o programa iraniano opera com liberdade crescente. Israel, aliado incondicional dos EUA, considera o enriquecimento de urânio por parte do Irã uma ameaça existencial - e há muito tempo pressiona por ação militar.
A resposta é direta: um Irã com capacidade atômica consolidada pode redesenhar completamente o equilíbrio de poder no Oriente Médio. Países como Arábia Saudita, Turquia e até o Egito já indicaram que, em caso de avanço iraniano, buscarão seus próprios arsenais nucleares. A consequência? Uma corrida armamentista regional com proporções imprevisíveis.
Mais do que isso: o regime teocrático dos aiatolás mantém alianças com grupos armados como Hezbollah, Hamas e milícias xiitas no Iraque, Síria e Iêmen. Um arsenal nuclear, mesmo que pequeno, daria ao Irã poder de dissuasão global - e colocaria o Ocidente de joelhos em futuros conflitos.
É isso que líderes europeus tentam avaliar. Enquanto França, Reino Unido e Alemanha condenam o avanço do programa iraniano, também veem com extrema preocupação o uso da força unilateral por parte dos EUA. “Esse bombardeio não foi só contra instalações nucleares - foi contra décadas de diplomacia internacional”, afirmou um diplomata francês sob anonimato.
A Rússia e a China - que têm interesses estratégicos no Irã - criticaram duramente a ação americana, enquanto pedem calma e retorno imediato às mesas de negociação. Teerã, por sua vez, interrompeu todas as conversas nucleares com o Ocidente.
A destruição física de três centros nucleares pode ter adiado o programa atômico iraniano. Mas os analistas alertam: não o parou. O conhecimento científico e técnico permanece. E agora, mais do que nunca, o Irã tem motivos para acelerar seus planos como forma de garantir sobrevivência diante de novos ataques.
A possibilidade de uso futuro de armas nucleares por regimes instáveis ou em zonas de guerra volta à pauta internacional com força. O que aconteceu no sábado não foi apenas um bombardeio: foi um choque sísmico na arquitetura de segurança global, que pode ser o prelúdio de uma nova era nuclear - ainda mais volátil e perigosa que a da Guerra Fria.
Se o Irã estivesse a meses de concluir sua primeira ogiva, os EUA e Israel teriam feito o que julgam necessário para impedir. Mas, ao romper o limite do uso da força, abriram um precedente que, para muitos, é irreversível.
E agora o mundo se pergunta: quem será o próximo a apertar o botão?
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