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Economia INADIMPLÊNCIA

Explosão de falências: mais de 31 mil empresas recorreram à recuperação judicial em dez anos

Aumento recorde de pedidos em meio a juros altos, inflação persistente e fragilidade do sistema aponta crise generalizada — e revela um país em alerta econômico

21/06/2025 às 23h41
Por: Douglas Ferreira
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A Americanas está em recuperação judicial desde janeiro de 2023, após admitir uma fraude contábil de R$ 20 bilhões - Foto: Reprodução/Tânia Rêgo/ABr).
A Americanas está em recuperação judicial desde janeiro de 2023, após admitir uma fraude contábil de R$ 20 bilhões - Foto: Reprodução/Tânia Rêgo/ABr).

Entre 2015 e 2025, 31.773 empresas brasileiras entraram com pedido de recuperação judicial - sem incluir outras que seguem em processo ou já entraram em falência. O drama econômico dessas companhias reflete uma combinação explosiva de fatores: juros nas alturas, inflação insistente, crédito escasso e gestão deficiente.

O que está por trás desse fenômeno?

  • Juros elevados (Selic acima dos 12%) estão drenando o caixa das empresas, especialmente as de pequeno porte, que dependem de capital de giro. Segundo a RGF, esse foi o setor mais afetado no 1º trimestre de 2025.

  • Inflação persistente corrói margens de lucro mesmo quando há leve recuperação do PIB.

  • A inadimplência elevada entre micro e pequenas empresas - que somam 7,2 milhões de negócios nessa situação - gera restrição de crédito e um efeito dominó.

  • Pandemia e crises econômicas deixaram um legado de fragilidade, com picos em 2017, 2020 e nos últimos anos.

Tendência pontual ou crise estrutural?

Não é apenas uma fase: em 2024 os pedidos bateram recorde - 2.273 solicitações, alta de 61,8% em relação a 2023. O primeiro trimestre de 2025 ainda registrou crescimento de 6,9% nos processos ativos.. O número de pedidos segue firme: já são cerca de 4.881 empresas em recuperação judicial. Portanto, trata-se de uma tendência sustentável - e preocupante.

Qual o perfil das empresas?

  • Idade não é barreira: a média é de 34,6 anos - incluindo 10.311 companhias centenárias e 9.964 com mais de 30 anos.

  • Setores vulneráveis: indústria lidera (especialmente têxtil, agroindústria, laticínios, frigoríficos), seguida por serviços e comércio.

  • Regionalmente concentrado: São Paulo responde por 71% dos casos da década.

  • Micro e pequenas dominam: em 2024, responderam por 1.676 dos 2.273 pedidos (78%).

 Impactos na economia e no cidadão comum

  1. Emprego e renda: empresas em recuperação tendem a cortar custos e demitir, mesmo sem falir.

  2. Crédito mais caro e escasso: bancos enxergam riscos maiores, restringindo empréstimos - o que reforça a crise.

  3. Sistema judicial sobrecarregado: processos lentos e oportunismo com honorários criam turbulência. Alguns pedidos se arrastam por dez anos.

  4. Risco de falência e calote: 18% das empresas que saem da recuperação acabam falindo; grandes nomes, como Varig, não resistiram.

  5. Insegurança jurídica: crise rola em meio a reformas na Lei de Falências, mas sem garantias reais de eficácia.

E agora?

  • Para empresas: gestão eficiente e planejamento preventivo são essenciais.

  • Para o governo: urgente aprovar medida que acelere procedimentos judiciais, evite o oportunismo e fortaleça a cultura de recuperação saudável.

Conclusão

Esse tsunami de pedidos de recuperação judicial não é um fato isolado — ele revela as feridas profundas da economia brasileira. São sintomas claros de juros altos, fragilidade financeira, burocracia e falhas estruturais na Justiça. Se não houver reação firme, o Brasil pode se ver num cenário de desemprego, escassez de crédito e muitas empresas fechando as portas — um impacto que afeta todos os brasileiros, direta ou indiretamente.

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