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Juros sobem, narrativa cai: esquerda perde o discurso com Galípolo à frente do Banco Central

Com Copom elevando a Selic para 15% mesmo após mudança no comando do BC, narrativa do PT desmorona. Agora sem Campos Neto como bode expiatório, governo mira o invisível - mas evita culpar o aliado

19/06/2025 às 16h49 Atualizada em 20/06/2025 às 11h22
Por: Douglas Ferreira
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Gleisi critica o aumento da Selic mas não culpa o Copom, nem o BC - Foto: Reprodução
Gleisi critica o aumento da Selic mas não culpa o Copom, nem o BC - Foto: Reprodução

A política monetária brasileira acaba de expor mais um vexame da retórica petista: o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa Selic para 15% ao ano, a maior desde 2006, e a esquerda simplesmente ficou sem discurso. Durante dois anos, o ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, foi alvo preferencial de Lula, do PT e de toda a militância governista. A acusação? "Jogar contra o país". Ser o último bastião bolsonarista na máquina pública. Um sabotador da retomada.

Só que agora, quem conduz o BC é Gabriel Galípolo, homem de confiança de Lula, nomeado a dedo para, supostamente, dar um novo rumo à política de juros. E o que Galípolo faz? Sobe os juros. Com austeridade. Com firmeza. Com argumentos técnicos - exatamente como Campos Neto fazia. A diferença é que agora ninguém grita.

A conta chegou - e o culpado não é o BC

O governo Lula 3 insiste em negar o óbvio: não é a taxa de juros que está desajustada - é a política fiscal. O Banco Central age para conter um incêndio provocado pela gastança. É o remédio amargo que evita que a inflação fuja completamente do controle. A elevação da Selic é, portanto, um reflexo do descompromisso do governo com o equilíbrio das contas públicas.

O próprio comunicado do Copom foi claro: “O cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho”. Traduzindo: há muito barulho, mas pouco controle.

Gleisi critica, mas amacia o tom

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, até ensaiou uma crítica após o anúncio da nova taxa. Mas desta vez o tom foi... suave, brando, quase meloso. Nada de ataques pessoais, nada de campanha no Twitter com memes contra Galípolo. Nenhuma acusação de “autonomia golpista”. Disse apenas que “é incompreensível” a elevação dos juros num cenário de crescimento. Como se não soubesse que o próprio governo, ao não cortar gastos e querer taxar até streaming de celular, é o motor da desconfiança.

E agora, Lula? Cadê o discurso?

Durante o governo Bolsonaro, bastava uma reunião do Copom para Lula e aliados soltarem os cachorros contra Campos Neto. Agora, o silêncio é constrangedor. Não dá mais para culpar o técnico pela falha do time. Galípolo é “da casa”. Votou pelo aumento. Foi unânime. Todos os membros do Copom concordaram. Logo, a culpa recai sobre quem mesmo?

Expectativa: novos aumentos - e mais desculpas

Segundo o próprio Galípolo, a Selic ainda deve continuar subindo até 2026. Ou seja: a situação tende a piorar. A inflação não cede, a confiança do investidor mingua, o gasto público explode. O risco Brasil aumenta e, com ele, o custo do crédito e a retração do consumo. A economia resiste, mas no grito não se governa um país.

A pergunta inevitável: e agora, PT?

Se o problema era Campos Neto, e agora ele já não está mais lá, qual será a nova desculpa para o fracasso do plano econômico do governo? Vão culpar o mercado? O agro? A imprensa? Os algoritmos do X (ex-Twitter)? O padre Kelmon ou o Chapolin Colorado? Porque o que está cada vez mais evidente é que o remédio amargo da Selic alta é a única âncora que resta para evitar um naufrágio fiscal.

Enquanto isso, o discurso da esquerda está de molho. E o Brasil... pagando a conta.

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