É verdade: em 12 dos 27 Estados brasileiros, há mais famílias recebendo Bolsa Família do que trabalhadores com carteira assinada no setor privado. Todos estão localizados nas regiões Norte e Nordeste, com destaque para o Maranhão, onde a proporção chega a quase 2 beneficiários para cada emprego formal (1,2 milhão de famílias assistidas contra 669 mil vínculos formais).
Fragilidade estrutural do mercado de trabalho nessas regiões: a economia local é incapaz de gerar empregos formais suficientes para sua população.
Papel social do Bolsa Família, que sustenta milhões em regiões onde o emprego é escasso.
Risco da dependência: nas últimas décadas, programas de transferência de renda passaram de “rede de segurança” a uma verdadeira “colcha de retalho” do mercado formal.
Embora especialistas afirmem que o Bolsa Família não gera “efeito preguiça”, há preocupações reais de que o programa possa reduzir o incentivo a procurar emprego, especialmente quando o valor do benefício média R$ 680, equivalente à metade de um salário mínimo. A criação de empregos e revisões cadastrais diminuíram essa proporção (de 13 para 12 Estados), mas o desequilíbrio persiste .
Nos rincões do Norte e Nordeste, o Bolsa Família já não é apenas uma ajuda: é a principal “fonte de renda” (quando existe) para milhões. Isso não é apenas assistência social - é a síntese de um fracasso da economia formal. Mas abrir o debate sobre isso é politicamente explosivo.
Quem ousa perguntar se o Estado está criando um assistencialismo que enfraquece a dignidade do trabalho, rapidamente é rotulado de “insensível”, ou pior, “contra os pobres”. Será que temos coragem de admitir que, em certos Estados, viver com Bolsa Família é a única opção para quem não consegue emprego decente?
A sociedade precisa encarar essa realidade de frente:
Reforma econômica estrutural e incentivo à indústria e ao comércio nessas regiões.
Educação e infraestrutura que qualifiquem populações locais para o trabalho decente.
Discussão madura sobre o momento em que o auxílio social torna-se barreira invisível para a autonomia.
Continuar apenas expandindo programas sociais é escolher o remendo contínuo em um prédio que racha de base. É preciso ousar pensar: quando o Bolsa Família será substituído por emprego?
Sim, são 12 Estados dependentes - e isso não é apenas estatística. É um grito por um Brasil onde o trabalho formal seja mais que utopia, e não apenas um emblema pendurado no crachá da dignidade. Se queremos um país mais justo, é hora de enfrentar essa contradição.
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