Um projeto federal criado para combater a desinformação nas redes sociais já consumiu R$ 10,5 milhões em recursos públicos, mas não apresentou resultados visíveis à sociedade. A Rede Minerva, iniciativa do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), foi lançada no fim de 2023 com orçamento total de R$ 54,1 milhões. Um ano e meio depois, a maior parte de suas ações e relatórios permanece restrita a órgãos públicos, sem acesso aberto para a população.
Apesar da proposta de enfrentamento às fake news, a rede chamou atenção por seus próprios métodos pouco transparentes. O diretor do Ibict, Tiago Emmanuel Nunes Braga, passou a receber uma bolsa mensal de R$ 7 mil por atuar no projeto, mesmo sendo o responsável pela coordenação e fiscalização do contrato. A seleção foi feita por “indicação do coordenador”, segundo documentos oficiais. Já o maior salário é pago a Rafael Caliari, ex-funcionário da Secom sem ensino superior completo, contratado como “gerente de mídias sociais”, embora o projeto sequer mantenha perfis ativos nas redes.
O projeto também bancou uma viagem de R$ 16,5 mil a Cuba para o pesquisador Marco Schneider, que participou de um colóquio organizado pela União dos Jornalistas Cubanos – entidade ligada ao regime autoritário da ilha. A viagem ocorreu um ano após o início da Rede Minerva e teve como um dos objetivos “estabelecer bases metodológicas” para o projeto brasileiro. A organização Repórteres Sem Fronteiras classifica Cuba como o país com menos liberdade de imprensa da América Latina.
Questionado, o Ibict negou irregularidades nas indicações de bolsistas e afirmou que as entregas públicas da Rede Minerva ocorrerão gradualmente até 2026 (acredito que os documentos serão usados como estratégia nas eleições de 2026). Também alegou que parte dos relatórios, como os de monitoramento de redes, é reservada a órgãos governamentais. A Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência negou envolvimento com a gestão da rede, apesar de documentos apontarem que a concepção do projeto contou com participação de ex-dirigentes do órgão.
O governo Lula, que tenta desde 2023 aprovar uma nova legislação para regulamentar redes sociais, volta a enfrentar críticas após o episódio em que a primeira-dama Janja reclamou do TikTok durante um jantar com o presidente chinês Xi Jinping. Lula confirmou ter pedido conselhos ao líder chinês sobre como lidar com a plataforma, reacendendo o debate sobre liberdade de expressão e controle digital no país. Um novo projeto de regulação, com previsão de bloqueios sem ordem judicial, está sendo elaborado pelo Ministério da Justiça.
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