Eu cresci acreditando que a liberdade de expressão era um dos pilares mais sagrados de uma sociedade democrática. Por isso, confesso que fiquei profundamente incomodado com a condenação do humorista Léo Lins a oito anos de prisão por piadas ditas em um show de stand-up. Não estou aqui para defender o teor das piadas — muitas delas são de gosto questionável, sim. Mas defender o direito de um artista subir no palco e brincar com os absurdos da realidade faz parte da essência do que é ser livre.
A repercussão dessa decisão foi além das nossas fronteiras. O respeitado Washington Post chamou a condenação de mais um esforço do Judiciário brasileiro para impor limites à liberdade de expressão, especialmente nas redes sociais. O jornal ainda lembrou que o STF tem bloqueado contas de usuários acusados de disseminar desinformação — um precedente perigoso, ainda mais quando se confunde crítica, sátira e piada com crime. O editorial do O Globo resumiu bem: “É absolutamente justificável repudiar suas piadas; são de péssimo gosto. Mas elas não colocam ninguém em risco. São piadas — não crimes”.
Esse não é um debate sobre gostar ou não de Léo Lins. É sobre liberdade. É sobre não permitir que o Estado decida o que pode ou não ser dito em cima de um palco. O jornal argentino Clarín classificou a condenação como “polêmica que pode criar precedentes”, e o espanhol El País falou em “piadas ofensivas”, mas deu espaço para colegas como Jonathan Nemer, que lembrou que o Brasil leva a sério piadas no palco e faz pouco caso dos absurdos cometidos por políticos — o que, sejamos honestos, é um retrato fiel da nossa realidade.
Em um vídeo que já soma milhões de visualizações, Léo Lins se defendeu: disse que interpreta uma “persona cômica” no palco e que não se pode analisar humor de forma literal. Concordo. A comédia exagera, distorce e provoca. Não é para ser levada ao pé da letra — é para incomodar, refletir, rir ou até virar as costas. Mas criminalizar piadas? Isso, sim, é perigoso.
O próprio Léo disse algo que me marcou: “Concordar com essa sentença é assumir que somos adultos infantilizados, incapazes de discernir o que é bom ou ruim e que precisamos do Estado nos dizendo do que podemos rir”. E ele está certo. A partir do momento em que o riso vira crime, o silêncio passa a ser a regra. E num país como o nosso, onde tantas coisas realmente graves ficam impunes, isso é mais do que uma ironia — é um sinal de alerta.
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