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Meio Ambiente O SILÊNCIO QUE GRITA

Desmatamento na Amazônia sobe 91% em maio de 2025

Silêncio verde: a contradição ambiental do boverno e a inércia das vozes ativistas do Brasil e do exterior

07/06/2025 às 14h46 Atualizada em 08/06/2025 às 11h55
Por: Douglas Ferreira
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O desmatamento e as queimadas estão destruindo a floresta amazônica mas ninguém parece enxergar - Foto: Reprodução -
O desmatamento e as queimadas estão destruindo a floresta amazônica mas ninguém parece enxergar - Foto: Reprodução -

O desmatamento na Amazônia disparou 91% em maio de 2025, atingindo 960 km², o segundo pior índice da história para o mês, de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A perda de floresta, impulsionada principalmente por incêndios florestais, expõe uma realidade contraditória: o desaparecimento do fervor ativista que, até poucos anos atrás, dominava manchetes, redes sociais e protestos internacionais.

Onde estão os defensores da floresta?

É impossível ignorar o silêncio das vozes que antes ecoavam com força diante de qualquer sinal de devastação ambiental. Cantores, artistas, políticos, ONGs internacionais e influenciadores que outrora se mobilizavam diante de cada árvore derrubada, agora parecem indiferentes. Onde estão os vídeos alarmantes? As hashtags dramáticas? As denúncias nas tribunas e nos palcos internacionais?

O contraste com o passado é gritante. Basta lembrar os protestos contra o desmatamento em governos anteriores - campanhas emocionadas, pressões internacionais, documentários, hashtags como #SOSAmazonia. Agora, a mesma floresta arde, e o barulho virou silêncio.

Contradição oficial

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, símbolo da luta ambiental no Brasil, não fez nenhum gesto concreto visível diante do atual cenário. Enquanto isso, a devastação continua acelerada. Desde agosto de 2024, a Amazônia já perdeu 9,7% mais floresta do que no mesmo período anterior.

Paradoxalmente, o governo atual, que condenava duramente os crimes ambientais do passado, vê sob sua gestão um dos piores cenários de desmatamento desde 1988 - e sem reação proporcional. E, como agravante, o país se prepara para sediar a COP 30, conferência internacional do clima, em 2025.

Boiada legalizada

A aprovação do PL 2159/2021, o chamado “PL do Desmatamento”, piora ainda mais a situação. Segundo Ana Carolina Crisostomo, especialista em conservação do WWF-Brasil, o projeto ignora completamente a crise climática e enfraquece o licenciamento ambiental, abrindo brechas para ações degradadoras. “Estamos vivenciando uma nova boiada”, alerta a especialista.

O secretário executivo do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, admitiu que o momento é “dramático”. Pela primeira vez, mais da metade do desmatamento em maio ocorreu em áreas já incendiadas, uma tendência impulsionada pelo agravamento das mudanças climáticas e pela ação criminosa do fogo.

Mato Grosso lidera a destruição

O Estado mais afetado foi Mato Grosso, com 627 km² de área desmatada, um aumento de 237% em relação a maio de 2024. Ele sozinho foi responsável por 65% de todo o desmatamento registrado no mês.

O Greenpeace atribui a alta a dois anos consecutivos de secas extremas, agravadas por um El Niño forte e pelas mudanças climáticas. “A floresta já impactada pelo fogo se torna mais vulnerável ao desmatamento”, afirma a entidade. Capobianco conclui: “Num planeta mais quente e seco, o uso do fogo se tornou uma estratégia eficiente para destruir a Amazônia”.

Reflexão final

É espantoso o silêncio de quem antes gritava. O desmatamento cresceu, as queimadas voltaram com força, mas os protestos sumiram. Quando os interesses mudam, parece que até a fumaça incomoda menos. O resultado? A Amazônia sangra, os ianomâmis seguem desassistidos, e o discurso ambiental vira apenas um instrumento político de ocasião.

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