Quando o israelense Amos Genish decidiu investir no Brasil, em 1999, a internet brasileira era sinônimo de frustração. Enquanto nos Estados Unidos os pacotes de banda larga atingiam 5 megabytes por segundo, aqui os usuários ainda enfrentavam conexões discadas de 25 kbps. O contraste brutal levou Genish a fundar a GVT, uma “empresa espelho” da antiga Brasil Telecom, com a proposta ousada de oferecer internet mais rápida, barata e moderna, desafiando o modelo herdado da estatal Telebras.
O Brasil, na época, começava a sair da era do monopólio estatal das telecomunicações, abrindo espaço para concorrência. A GVT aproveitou o momento regulatório e apostou na fibra óptica desde o início, diferentemente das gigantes que exploravam o obsoleto cabeamento de cobre. Com foco em cidades médias e desassistidas, a empresa cresceu rápido e se tornou referência em qualidade, transformando a realidade digital de regiões inteiras do país — especialmente no Centro-Oeste, Sul e Norte.
O sucesso da GVT atraiu a atenção da Telefónica, que comprou a companhia por R$ 22 bilhões em 2014, consolidando um dos maiores negócios do setor. Em paralelo, empresas como a Net, Brisanet, Unifique e Giga Mais Fibra seguiram trajetórias próprias, provando que a competição — e não o controle estatal — é que puxa a inovação e leva conexão de qualidade a quem antes era ignorado. Muitos desses pequenos e médios provedores hoje lideram rankings de satisfação da Anatel e já superam as grandes operadoras em número de clientes.
A chegada do 5G exigiu nova infraestrutura e investimento maciço. Mais uma vez, foram os provedores independentes que avançaram, levando a tecnologia às cidades do interior e às regiões mais remotas, onde o Estado continua ausente. Em paralelo, empresas como a Starlink, de Elon Musk, vêm suprindo lacunas com internet via satélite, mostrando que a inovação muitas vezes vem de fora — e de forma privada. O trabalho da EAF, entidade sem fins lucrativos criada com dinheiro das operadoras, também demonstra que soluções podem surgir fora do Estado.
Apesar dos avanços, mais de 1.200 municípios ainda não têm acesso à fibra óptica. Como disse Genish, conectar esses brasileiros exigirá subsídios e criatividade. Mas a história da internet no Brasil mostra um padrão: quanto menos o Estado interfere diretamente na prestação do serviço, mais os consumidores ganham. O legado da GVT, das teles regionais e até de iniciativas como a Starlink deixam clara uma verdade incômoda: inovação, eficiência e qualidade quase sempre vêm do mercado — não do governo.
Mín. 22° Máx. 34°