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Economia O 'PRETINHO' DISPARA

Inflação do café passa de 80% e brasileiro vê promessa da picanha virar piada amarga

Segundo o IBGE, café moído foi o item com maior alta no IPCA, com preços explodindo em algumas capitais; enquanto o governo minimiza a crise, o brasileiro amarga o cafezinho mais caro desde o Plano Real

10/05/2025 às 14h20
Por: Douglas Ferreira
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O cafezinho passou de gentileza e afeto a vilão na mesa do consumidor brasileiro - Foto: Reprodução
O cafezinho passou de gentileza e afeto a vilão na mesa do consumidor brasileiro - Foto: Reprodução

O brasileiro é reconhecido mundialmente pelo bom humor. Em meio a dificuldades econômicas, sempre encontra uma maneira de rir da própria dor. E não foi diferente diante da disparada no preço do café. A mais nova piada que circula nas redes sociais diz que o presidente Lula cumpriu mais uma promessa de campanha: "igualou o preço da picanha ao do cafezinho". Mas a ironia tem um fundo trágico - não porque a picanha ficou mais acessível, mas porque o café explodiu de preço, ultrapassando todas as expectativas.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nos últimos 12 meses, o café moído acumulou uma inflação superior a 80%, configurando-se como o maior aumento registrado entre os 377 itens que compõem o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). É a maior alta desde o Plano Real, implantado em 1994. À época, o café chegou a registrar inflação de 85% entre junho de 1994 e maio de 1995. Agora, três décadas depois, o velho “pretinho” reaparece como símbolo de uma economia que não consegue entregar estabilidade nem no básico.

Em 2025, só o café moído já acumula alta de 39,6%, com os maiores aumentos registrados em Porto Alegre (quase 100%) e Goiânia (97%). Mesmo nas capitais com menor impacto, como Recife (61%) e São Paulo (65%), o avanço é alarmante e afeta diretamente o cotidiano das famílias, das padarias e dos pequenos comércios, que veem seus custos dispararem.

O impacto dessa inflação não se limita ao café em si. O aumento pressiona toda a cadeia de consumo, desde o produtor rural até o consumidor final. O cafezinho, tradicional símbolo da pausa no trabalho, da gentileza entre vizinhos e do afeto nas casas brasileiras, está se tornando um item de luxo. Empresários do setor alimentício já apontam queda no consumo e reajustes constantes nos cardápios.

Questionado sobre as causas do aumento, o governo federal atribuiu o fenômeno a fatores climáticos adversos em regiões produtoras, especialmente no Sudeste, além da pressão no mercado internacional e do dólar em patamares elevados. Contudo, para muitos especialistas, o governo tem falhado na formulação de políticas eficazes para mitigar o impacto da inflação nos alimentos - e o café é apenas mais um sintoma de um cenário mais amplo de descontrole.

O que deveria ser um bem acessível, quase sagrado na cultura nacional, agora virou mais um motivo de indignação e decepção com um governo que prometeu colocar comida de qualidade na mesa do povo. No entanto, se a promessa da picanha ainda parece distante, o cafezinho amargo e caro já é uma realidade. E, como sempre, sobra para o povo fazer piada para suportar o peso no bolso.

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