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Economia CONSÓRCIO DO CRIME

Máfia da Previdência: como o INSS se tornou cúmplice e partícipe do roubo de aposentados

Organização criminosa cresceu 20.000.000% em plena gestão federal, faturando R$ 105 milhões com a conivência de sindicatos, associações e agentes públicos - tudo sob o silêncio do TCU por um ano

09/05/2025 às 08h24
Por: Douglas Ferreira
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A AMBEC saltou de R$ 14,7 mil para mais R$ 90 milhões de 2022 para 2023 - Foto: Reprodução
A AMBEC saltou de R$ 14,7 mil para mais R$ 90 milhões de 2022 para 2023 - Foto: Reprodução

Nenhuma organização criminosa nasce grande. Ela cresce à sombra da omissão, da leniência e, muitas vezes, do envolvimento direto do próprio Estado. No caso do escandaloso esquema que uniu o INSS, sindicatos e associações de fachada, o crime encontrou dentro da estrutura pública não apenas espaço para atuar, mas aliados poderosos que transformaram o que deveria proteger aposentados e pensionistas em uma verdadeira máquina de extorsão legalizada.

O esquema ganhou corpo durante o governo Lula 3. A engrenagem criminosa se articulou com tamanha eficiência que uma única entidade, a AMBEC (Associação de Aposentados Mutualista para Benefícios Coletivos), saltou de insignificantes 3 filiados em 2021 para absurdos 601.624 em 2023. Um crescimento de 20.000.000% - não, você não leu errado. Com essa explosão artificial de "associados", a AMBEC abocanhou R$ 105 milhões das já minguadas aposentadorias de idosos brasileiros.

Esses dados não são fruto de suposição ou denúncias informais. São informações confirmadas por auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU). E talvez o detalhe mais escandaloso: o TCU já sabia do esquema há pelo menos um ano, mas optou por manter o relatório em silêncio enquanto a organização criminosa seguia drenando milhões dos velhinhos e viúvas - com ajuda de servidores públicos e dirigentes de entidades sindicais.

Um cartel do assalto institucionalizado

O funcionamento da máfia previdenciária é engenhoso e covarde: associações são habilitadas dentro do próprio sistema do INSS, que permite o desconto direto no contracheque dos aposentados. Muitas vezes, os idosos nem sabem que foram "associados". O valor, pequeno por unidade - geralmente entre R$ 10 e R$ 40 - acaba passando despercebido entre os descontos habituais. Só que, multiplicado por milhares (ou milhões) de “associados”, vira um negócio milionário.

De 2022 para 2023, a AMBEC foi de um faturamento tímido de R$ 14,7 mil para mais de R$ 90 milhões. Como isso foi possível? Alguém acreditaria que esse crescimento ocorreu sem a conivência direta de servidores do INSS, de sindicatos oportunistas e do próprio Ministério da Previdência Social?

O site Reclame Aqui já vinha há anos registrando queixas contra a entidade: foram mais de 7,6 mil reclamações em três anos, a maioria (81,7%) sobre cobranças indevidas. Ou seja, os sinais de fraude estavam por todos os lados. O que faltou foi ação.

O Estado como sócio do crime

O que se vê é um modelo de corrupção institucionalizada, onde o Estado se torna sócio do crime contra seus próprios cidadãos mais vulneráveis. Essa não é uma falha pontual. É um projeto. Um sistema operando com aparência de legalidade, mas com lógica mafiosa.

Diante disso, algumas perguntas precisam de resposta:

  • Onde estavam os mecanismos de controle interno do INSS?

  • Como o Ministério da Previdência permitiu esse crescimento insólito de "filiados"?

  • Quem, dentro da máquina pública, facilitou o acesso da AMBEC aos dados dos aposentados?

  • Quem lucrou junto?

É possível reaver o dinheiro?

Recuperar os R$ 105 milhões subtraídos será difícil, mas não impossível - desde que haja vontade política. A rastreabilidade das operações bancárias e o levantamento patrimonial dos envolvidos podem ajudar. No entanto, para isso, o governo precisa deixar de proteger seus aliados e passar a proteger seus cidadãos.

O silêncio inicial do TCU, o envolvimento de sindicatos alinhados politicamente ao governo, e a omissão do Ministério da Previdência apontam para uma máfia institucionalizada, onde o roubo não acontece na calada da noite, mas em plena luz do dia, com carimbo oficial.

Se não houver punição exemplar, investigação rigorosa e devolução dos valores, o Brasil terá admitido, mais uma vez, que o crime compensa - sobretudo quando quem assalta usa crachá de servidor público.

 

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