O governador Rafael Fonteles embarca, mais uma vez, para fora do Brasil. Desta vez, a missão é dupla: uma viagem à China entre os dias 11 e 14 de maio, seguida por um giro pelo mundo árabe - Catar, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita - de 23 a 31 de maio. O discurso é o de sempre: atrair investimentos, fortalecer parcerias e promover o Piauí no cenário internacional. Mas a pergunta que não quer calar é: essas viagens são realmente missões governamentais ou turismo de luxo bancado pelo contribuinte piauiense?
Já são 12 viagens internacionais em pouco mais de dois anos de gestão, um recorde entre os governadores do Nordeste e, talvez, do país. Poucos políticos piauienses, mesmo com décadas de vida pública, possuem um passaporte tão carimbado quanto o de Rafael Fonteles. Mas o que essas idas e vindas ao exterior renderam de prático até agora?
Até o momento, a maior parte do que se sabe são memorandos de entendimento, intenção de parceria, potenciais conversas futuras. Nenhum grande contrato foi assinado, nenhuma indústria foi instalada, nenhum grupo empresarial anunciou de forma concreta a abertura de unidades no estado. O Piauí continua esperando:
Alguma planta industrial na área de energias renováveis? Não há confirmação.
Investimentos reais no Porto Piauí? Até agora, só estudos e promessas.
Empresas estrangeiras se instalaram no estado por causa das viagens? Nenhuma notícia nesse sentido.
Geração de empregos derivada dessas missões? Zero dados objetivos.
Enquanto isso, os gastos do governo com passagens aéreas e locação de aeronaves já ultrapassam R$ 3,4 milhões só em 2025. Um valor que começa a chamar a atenção, inclusive da oposição na Assembleia Legislativa. O deputado B. Sá (Progressistas) foi direto: “A população quer saber qual o retorno dessas viagens”.
É difícil não desconfiar que parte dessas viagens tem mais efeito estético do que prático. Vídeos bem produzidos, registros de reuniões com empresários, painéis luxuosos e discursos sobre o “futuro sustentável do Piauí”. Tudo isso gera engajamento nas redes sociais, especialmente no Instagram e no TikTok do governador. Mas, fora da bolha digital, a realidade do Piauí segue marcada pela pobreza, desemprego e falta de infraestrutura básica.
E a pergunta incômoda retorna: será que desta vez vai sair algo concreto ou será apenas mais uma turnê internacional bancada com dinheiro público?
Rafael Fonteles já passou da metade do seu mandato. A fase das promessas ficou para trás. É hora de apresentar resultados concretos, números, contratos assinados, obras iniciadas, empresas instaladas. O povo do Piauí não pode mais sustentar uma gestão que invista mais em milhas aéreas do que em desenvolvimento real.
Caso contrário, o governador corre o risco de entrar para a história não como o gestor da transformação, mas apenas como “o governador do passaporte carimbado” - aquele que mais viajou, mas que menos entregou.
Mín. 24° Máx. 35°