Nos últimos anos, o Piauí passou de rota do tráfico para ponto fixo no mapa do crime organizado. Um salto vergonhoso que colocou o Estado no radar nacional - não pelas boas práticas, mas pelo avanço do narcotráfico, do contrabando e da impunidade institucionalizada. O Piauí virou, sem exagero, um paraíso para o crime e um inferno para o cidadão honesto.
Nas pequenas cidades, onde deveria haver ao menos um delegado, um hospital decente ou uma escola de ensino médio, não falta é boca de fumo. E nem precisa procurar muito: elas estão à vista, agora organizadas, modernas, oferecendo crack, cocaína, maconha - e até delivery. O tráfico virou negócio, e o crime, rotina.
O caso mais recente ilustra bem essa realidade: a apreensão de sete iPhones sem nota fiscal pela Polícia Rodoviária Federal, durante uma fiscalização na BR-135, em Cristino Castro. Um carro vindo de São Paulo carregava os aparelhos de alto valor sem nenhum documento legal. Pior: o cheiro de maconha denunciava o pacote completo do crime - tráfico, descaminho e consumo. É só um exemplo de uma prática generalizada, cotidiana.
A pergunta é inevitável: como o Piauí chegou a esse ponto?
A resposta está na omissão crônica do Estado. Falta presença institucional, sobra zona de sombra, de conforto, onde o crime opera sem freio. E, ainda assim, o governo prefere aumentar alíquota de ICMS para o cidadão do que combater a sonegação monumental que ocorre nos galpões clandestinos, nas revendas de mercadoria ilegal, nos portos secos improvisados das fronteiras piauienses.
Enquanto isso, a fiscalização tributária é tímida, quase decorativa. O crime de descaminho - que parece “menor” - corrói a economia formal, alimenta o mercado ilegal e financia o tráfico de drogas e armas. Sim, porque onde entra um iPhone contrabandeado, passa também a arma que mata. Mas ao invés de atacar o problema com força, o governo fecha os olhos - e compensa o rombo aumentando impostos sobre quem já paga. E paga caro.
Essa lógica é perversa e irracional. O Estado penaliza o legal e protege o ilegal. Deixa o pequeno comerciante nadar em papéis e taxas, enquanto o contrabandista cruza o Estado com malas cheias de produto sem nota é quase uma shopee ambulante.
É inadmissível que um território do tamanho do Piauí - com fronteiras frágeis, cidades sem presença da Polícia Civil, rodovias esburacadas e fiscalização rarefeita - seja transformado num entreposto do crime. A ausência do Estado virou estratégia de gestão. Em muitas cidades a seguraça pública é resultado apenas de policias destemidos que arriscam a própria vida na defesa da lei e do cidadão.
O resultado está aí: o tráfico domina, o contrabando prospera, a violência cresce, e o cidadão honesto paga - com impostos, medo e abandono.
A pergunta que fica é direta: o que o governo Rafael Fonteles vai fazer diante desse caos? Continuar pedindo empréstimos de bilhões para obras eleitoreiras enquanto o Estado se deteriora por dentro, corroído pelo crime? Ou finalmente acordar para o fato de que sem ordem, não há progresso - e sem combate ao crime, não há futuro?
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