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Economia QUANDO MUITO É POUCO

O Piauí na UTI Fiscal: Governo Rafael Fonteles transforma empréstimo em método de gestão

Com mais de R$ 11,5 bilhões em novos débitos, Estado se aproxima de um colapso orçamentário e repete a lógica de um trabalhador endividado que toma dinheiro com um agiota para pagar outro

05/05/2025 às 14h17 Atualizada em 06/05/2025 às 08h42
Por: Douglas Ferreira
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O governador Rafael Fonteles está conseguindo exaurir a capacidade do Estado de pagar as contas - Foto: Reprodução
O governador Rafael Fonteles está conseguindo exaurir a capacidade do Estado de pagar as contas - Foto: Reprodução

Há algo profundamente errado quando um governo governa de empréstimo em empréstimo. Pior ainda: quando se recorre a operações financeiras não para investir, mas para pagar os próprios empréstimos anteriores. Essa é, hoje, a realidade do Estado do Piauí sob a administração do petista Rafael Fonteles, o gênio da matemática, mas que, na prática, parece aplicar uma aritmética do desespero fiscal.

Somente em 2025, o governo já pediu autorização para contrair R$ 11,5 bilhões em novas dívidas. Isso sem contar os bilhões já firmados em 2023 e 2024, que somam valores superiores a R$ 6 bilhões. Em menos de dois anos, o Piauí acumulou empréstimos equivalentes a uma década de arrecadação de alguns municípios do Estado. E agora, novos pedidos de mais R$ 580 milhões foram enviados à Assembleia Legislativa. O vício no crédito virou política de Estado.

A justificativa? Digitalização, modernização fiscal, sustentabilidade, infraestrutura. Termos pomposos, embalados em "powerpoints" técnicos e mensagens cheias de promessas - mas, ao fim, a realidade grita: o Estado está se endividando para pagar dívida. Uma engrenagem perversa onde se gasta o futuro no presente sem planejamento consistente. É a síndrome do agiota institucionalizado.

O governo já chegou ao ponto de comprometer a arrecadação futura do próprio imposto de renda retido na fonte como contragarantia para os financiamentos. É o que garante economistas e especialistas, ou seja, o que ainda nem entrou no caixa já está prometido aos bancos. O Tesouro Estadual se transformou em uma roleta de penhoras.

E tudo isso em pleno ano pré-eleitoral.

Com R$ 11,5 bilhões na mão, quem fiscaliza o uso correto dos recursos? Como evitar o uso eleitoreiro de obras, contratos e inaugurações? A tentação, como bem dizem os bastidores da política, é tentadora demais. E o governo, mesmo com um discurso de responsabilidade fiscal, não demonstra limites claros para o próprio apetite financeiro. Quer mais, sempre mais.

O pior: não há debate público real. A decisão de endividar o estado é tomada sempre a porta fechada. Os empréstimos são empurrados goela abaixo da Assembleia Legislativa sob o argumento de “eficiência de gestão”. Os deputado votam e aprovam sem nem pestanejar. Alugns sequer lêem os pedidos de crédito. E enquanto isso, o contribuinte segue pagando a conta com aumento de impostos, majoração de alíquotas e aperto nas contas públicas.

A gestão de Rafael Fonteles, até aqui, tem deixado uma herança que não se mede em obras, mas em parcelas mensais de endividamento e juros crescentes. Em vez de um modelo criativo de desenvolvimento, o que se vê é um Estado cada vez mais dependente de capital externo - sem clareza sobre como isso tudo será pago no “frigir dos ovos”.

A pergunta que ecoa é simples: onde vamos parar? Quando a arrecadação não der mais conta, virá o quê? Mais empréstimos? Mais impostos? Venda de ativos do Estado? Ou, como num ciclo vicioso, a falência técnica?

No final, quem pagará tudo isso será o povo do Piauí - não hoje, talvez nem em 2026, mas ao longo da próxima geração. E tudo isso, supostamente, em nome da "eficiência".

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