Desde os primeiros séculos do cristianismo, a Igreja convive com heresias. Isso não é novidade. O que escandaliza hoje, porém, não é o herege externo, o inimigo declarado da fé — mas aquele que, se dizendo cristão, professa absurdos que negam frontalmente os dogmas do Evangelho. É exatamente isso que assistimos na absurda defesa do deputado Glauber Braga, comunista, agressor confesso, que agora é tratado como um mártir por setores da esquerda religiosa — com direito a comparações grotescas com Jesus Cristo.
O deputado, que enfrenta um processo de cassação por ter agredido fisicamente um militante do MBL, entrou em greve de fome em protesto. Seu ato, que poderia ser visto como desespero político, acabou romantizado por figuras como Frei Betto e Leonardo Boff, que assinaram uma carta em defesa de Glauber, equiparando sua situação à de Cristo, Gandhi, Mandela e Luther King.
Essa comparação é, no mínimo, blasfema. Cristo foi perseguido por pregar o amor, a humildade, o perdão e a reconciliação entre os homens e Deus. Glauber Braga responde por agressão física. Gandhi pregava a não-violência; Glauber chutou um oponente político. Mandela resistiu ao apartheid; Glauber não resiste nem à própria intolerância.
Mas o que mais alarma — e causa repulsa espiritual — é que nomes que se dizem representantes do cristianismo ousam usar a imagem do Filho de Deus para defender um agressor político. Isso, no campo teológico, é heresia no mais pleno sentido do termo. Heresia não apenas como erro doutrinário, mas como insulto à fé cristã, ao próprio Evangelho.
A carta assinada por mais de trinta lideranças religiosas não só defende um político acusado de violência, como também tenta transformar a cena de um ato agressivo em um episódio messiânico. O trecho em que dizem desejar a Glauber “a força de Jesus Cristo crucificado” não apenas distorce o Evangelho — mas o instrumentaliza para fins políticos, transformando Cristo em um totem ideológico.
Ainda que vivamos numa democracia — e ela permite que todos defendam quem quiserem, inclusive agressores — o que não pode ser tolerado é a deturpação da fé para justificar o injustificável. A Igreja, seja ela Católica ou Protestante, precisa se posicionar: Frei Betto e Leonardo Boff ainda a representam? Ou já se desviaram completamente da doutrina que dizem professar?
E mais: o que resta da Teologia da Libertação quando ela abandona a libertação espiritual em nome da idolatria ao Estado e a políticos de esquerda? Será que seus expoentes ainda reconhecem Cristo como o centro da fé, ou agora Ele é apenas uma figura retórica útil em cartas abertas?
A heresia, no fim, não está apenas em Glauber Braga, mas em seus defensores clericais, que escolheram a militância política em detrimento da fidelidade teológica. E como toda heresia, esta também requer um nome: a heresia da inversão moral — onde o culpado é santificado, e o Cristo é transformado em ferramenta de narrativa ideológica.
Se a Igreja silenciar diante disso, corre o risco de trocar a cruz por um comício, e a fé por panfleto. E essa, sim, seria uma derrota espiritual de proporções históricas.
Mín. 24° Máx. 36°