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Economia NA FILA DA FOME

Crise inflacionária: A falta de proteína no prato do brasileiro

Enquanto os preços disparam e o poder de compra murcha, a carência de alimentos proteicos atinge duramente famílias, especialmente no Nordeste, onde até a tradicional “fila do osso” se mostra insuficiente para saciar a fome crescente

14/04/2025 às 19h44 Atualizada em 14/04/2025 às 20h04
Por: Douglas Ferreira
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A dura realidade vivida pelo brasileiro ao ir as compras com uma inflação galopante que tira a comida da mesa do trabalhador - Foto: Reprodução
A dura realidade vivida pelo brasileiro ao ir as compras com uma inflação galopante que tira a comida da mesa do trabalhador - Foto: Reprodução

A realidade inflacionária que aflige o Brasil vai muito além da alta nos preços de itens básicos: ela impõe uma dolorosa escassez de proteína no prato dos brasileiros. Com o aumento exacerbado dos preços, muitos consumidores se veem obrigados a reduzir a compra de itens fundamentais para uma alimentação balanceada. Dados da pesquisa Datafolha apontam que 58% dos brasileiros já cortaram a quantidade de alimentos adquiridos, e entre os mais vulneráveis esse percentual alcança 67%. Esse cenário crítico evidencia que a população não tem condições de incluir fontes proteicas adequadas em sua dieta, levando a um quadro de desnutrição que atinge especialmente as famílias de baixa renda.

Nos Estados nordestinos, como no Ceará, a situação se agrava. Lá, alternativas como a tradicional “fila do osso” - um recurso emergencial para tentar suprir a falta de proteína - mostram-se insuficientes diante da legião de famintos. Outra capital cuja fome assola é Cuiabá, onde a população também recorre à fila do "ossinho". A escassez de carne, acompanhada de uma crise que impõe a redução de gastos até em itens essenciais, deixa clara a defasagem entre o que se oferece oficialmente e o que a realidade dos supermercados e feiras de alimentos revela. Não há "ossada" suficiente para alimentar um povo que, dia após dia, luta para garantir o mínimo para uma refeição digna.

Enquanto o governo tenta propagar a narrativa de uma cesta básica que, em alguns casos, chega a apresentar leves quedas, o cidadão sente na pele a dura consequência de um sistema que não consegue acompanhar a inflação. O salário mínimo de R$ 1.518,00 - que deveria ser o esteio para cobrir despesas básicas de uma família - mal se compara ao custo ideal de R$ 5.645,72 necessário para sustentar uma família de quatro pessoas. O abismo entre a teoria e a prática é evidente, e, a cada ida ao supermercado, o brasileiro se depara com a escolha de cortar alimentos essenciais, sacrificando inclusive as fontes de proteína vital para uma alimentação saudável.

Esse descompasso entre as estatísticas oficiais e a experiência cotidiana não é apenas um retrato de uma economia em colapso, mas um grito de alerta para a ausência de políticas eficazes de proteção ao consumidor. A crise inflacionária evidencia não apenas o encarecimento de produtos, mas a falência de um sistema que deveria garantir, acima de tudo, o direito fundamental à alimentação digna e equilibrada. Em pleno século XXI, é inadmissível que a população seja forçada a abrir mão do que há de mais essencial para a saúde - a proteína -, sendo refém de uma economia que prioriza números e estatísticas confortáveis, mas que, na prática, falha em oferecer o suporte básico para a sobrevivência.

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