Na edição deste sábado (12), o prestigiado The Wall Street Journal (WSJ) não poupou críticas ao protecionismo econômico - e usou o Brasil como exemplo do que pode dar errado. A reportagem parte de uma análise da proposta do ex-presidente Donald Trump, que promete impor tarifas sobre quase todas as importações caso volte à Casa Branca, e conclui: os EUA podem acabar como o Brasil.
Segundo o jornal, o Brasil é “um vislumbre do futuro” se o isolacionismo comercial vencer a lógica da concorrência. O texto é duro: diz que, ao longo das décadas, o protecionismo brasileiro sufocou a produtividade, encareceu produtos, travou a inovação e - ironicamente - não transformou o país na potência industrial que seus líderes tanto prometeram.
O WSJ lembra que a indústria brasileira representava 36% do PIB em 1985. Hoje, mal passa de 14%. Isso apesar de décadas de políticas que blindaram o mercado interno com tarifas altíssimas, licenças de importação, cotas e burocracia alfandegária.
E o custo disso aparece nos detalhes mais cotidianos: um iPhone no Brasil pode custar quase o dobro do vendido nos EUA. Uma caixa de chá inglês pode ultrapassar os 50 dólares. O protecionismo, diz o jornal, vira uma armadilha para o consumidor e um desincentivo à eficiência.
A reportagem reforça um ponto que empresários e economistas brasileiros denunciam há anos: o chamado Custo Brasil, esse emaranhado de tributos, taxas, encargos trabalhistas e exigências regulatórias que tornam tudo mais caro e mais lento. A crítica do WSJ é certeira - e também política: mostra como o protecionismo é tratado no Brasil como um dogma, muitas vezes acima da razão econômica.
Segundo o texto, mesmo com uma vantagem importante - um vasto mercado consumidor - o Brasil não soube usar esse trunfo para se abrir ao mundo. Pelo contrário: se acomodou. O mercado interno virou zona de conforto para empresas pouco competitivas, enquanto países asiáticos surfaram nas exportações.
O jornal ainda cutuca diretamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Classifica como “contraditório” o fato de o petista se opor às tarifas de Trump ao mesmo tempo em que defende, historicamente, um modelo econômico repleto de barreiras comerciais. Segundo o WSJ, é um caso clássico de “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”.
A crítica do WSJ é mais que uma advertência aos EUA - é um espelho incômodo para o Brasil. Mostra como uma política industrial baseada apenas na proteção, e não na inovação, pode ser um tiro no pé. Enquanto o país insiste em manter tarifas, subsídios e distorções, outros competem por produtividade, escala e tecnologia.
A lição que o Brasil pode - e deveria - tirar dessa reportagem é clara:
Sem enfrentar o “Custo Brasil”, sem desburocratizar o comércio, sem reformar a máquina tributária e sem abrir o país com estratégia, o país seguirá preso à armadilha de baixo crescimento, baixa produtividade e preços altos.
Trump pode se assustar com o que viu no Brasil. O problema é: será que o Brasil se assusta consigo mesmo?
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