O tarifaço anunciado pelo governo dos Estados Unidos, que impõe uma elevação de 10% nas tarifas sobre produtos brasileiros — a menor alíquota no pacote protecionista de Donald Trump — caiu como uma bomba sobre o setor produtivo nacional. Da indústria do aço ao agronegócio da soja, a inquietação é geral. Exportadores estão tensos, e o sentimento predominante é o da impotência diante de uma medida unilateral que ameaça mercados consolidados e margens já pressionadas.
Enquanto isso, do lado de cá, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, parece viver em outro tempo. Com uma calma que chega a incomodar, o ministro afirma que não há razão para pânico. Para ele, a economia brasileira possui “vários graus de liberdade” e está preparada para suportar os impactos. “Você vai ter algum impacto, mas a economia brasileira segue saudável”, declarou Haddad em entrevista à BandNews FM.
Mas que graus de liberdade são esses? Que plano de contingência foi acionado? Que medida concreta foi tomada para iniciar um diálogo com Washington ou mitigar os efeitos desse tarifaço? Até agora, nada de concreto. Nenhum gesto oficial de reaproximação ou tentativa de entendimento. Haddad fala com a frieza de quem tem uma carta na manga — só que essa carta não é mostrada a ninguém.
A situação, no entanto, está longe de ser confortável. Os Estados Unidos são um dos principais parceiros comerciais do Brasil e destino garantido para importantes commodities brasileiras, como o aço e a soja. A retaliação americana, ainda que disfarçada de proteção econômica, é uma pancada direta em setores vitais da economia nacional. E diante disso, a postura contemplativa do governo soa, no mínimo, arriscada.
Como se não bastasse, o próprio Haddad criticou a guinada protecionista dos EUA, chamando-a de “cavalo de pau em um transatlântico”. “Os Estados Unidos passaram as últimas quatro décadas defendendo o livre comércio. De repente, mudam 180 graus”, disse o ministro, atribuindo a decisão às pressões internas de empresários americanos. Mas criticar não é reagir. E reagir, neste momento, é agir com firmeza, articulando estratégias diplomáticas, comerciais e econômicas que protejam o Brasil.
A depender apenas do discurso de “tranquilidade” de Haddad, o país corre o risco de assistir passivamente à corrosão de sua presença no mercado norte-americano — e talvez em outros mercados que podem seguir o mesmo exemplo. O momento exige mais do que declarações de que tudo está sob controle. É hora de buscar soluções, abrir negociações e apresentar alternativas concretas.
Porque se o plano B do governo for cruzar os braços e torcer, talvez nem mesmo o Chapolin Colorado possa nos salvar.
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