O que está em jogo nesta guerra tarifária entre Estados Unidos e China vai muito além de simples aumentos de impostos sobre produtos importados. É uma batalha entre duas potências econômicas que disputam não apenas mercados, mas também influência global, cadeias produtivas e a supremacia tecnológica e industrial do século XXI. E, como em toda guerra entre gigantes, os estilhaços atingem terceiros - e o Brasil pode ser um dos mais afetados.
A decisão da China de elevar de 84% para 125% as tarifas sobre produtos americanos - em resposta direta ao tarifaço de 145% promovido por Donald Trump - representa uma escalada sem precedentes desde o início da guerra comercial. Cada novo movimento tem ampliado a instabilidade nos mercados internacionais, afetando bolsas de valores, freando investimentos e embaralhando planos de crescimento de empresas em todos os continentes.
Mas essa nova rodada da guerra tem um ingrediente a mais: o risco de deslocamento maciço de excedentes industriais. A China, impedida de escoar parte da sua produção para os EUA, vai procurar novos mercados. E aí entra o Brasil.
O que acontece quando a maior fábrica do mundo perde seu principal comprador? Ela busca outros. E o Brasil, com sua economia aberta a importações e em muitos casos fragilizada industrialmente, pode se tornar um alvo ideal para o despejo de produtos chineses com preços mais que competitivos -, muitas vezes, subsidiados.
O resultado disso pode ser devastador para a indústria brasileira. Setores como eletroeletrônicos, têxtil, automotivo e até o agronegócio podem enfrentar concorrência desleal. As fábricas nacionais, já combalidas por juros altos, baixa produtividade e carga tributária pesada, terão ainda mais dificuldade para competir.
Até agora, o Brasil tem adotado uma postura tímida diante da guerra comercial. O governo parece assistir de longe, de camarote, sem uma estratégia clara. Mas neutralidade, neste caso, pode sair caro.
Se o país não agir preventivamente - com salvaguardas, incentivos à indústria local, políticas industriais mais robustas e um posicionamento firme na OMC - corre o risco de se tornar um campo de batalha indireto. E isso pode resultar não só em desindustrialização acelerada, mas também em desemprego e perda de arrecadação.
Além disso, a diplomacia brasileira terá de se equilibrar entre duas potências com as quais mantém laços profundos: os EUA, tradicional aliado político e militar; e a China, principal parceiro comercial.
Os efeitos dessa escalada tarifária já estão sendo sentidos nos mercados globais: retração nas bolsas, reavaliações de investimentos internacionais, revisão de planos de expansão de multinacionais e aumento da incerteza econômica. A OMC, enfraquecida nos últimos anos, assiste impotente enquanto suas regras são ignoradas pelas maiores economias do planeta.
Há também o temor de que outros países adotem posturas semelhantes - uma espécie de contágio protecionista que poderia levar o mundo a uma nova era de isolacionismo comercial, com prejuízos para o crescimento global.
O Brasil precisa escolher: vai apenas assistir à guerra ou vai se proteger de seus estilhaços? O momento exige ação coordenada entre governo, indústria e sociedade. Não é hora de ingenuidade. Quando os elefantes brigam, é a grama que sofre.
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