A suspensão por 90 dias do chamado “tarifaço” anunciado pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, provocou uma euforia nas bolsas de valores da Ásia, Europa e América Latina. O alívio, porém, veio com um asterisco: a China ficou de fora da trégua — e, para Pequim, as tarifas aumentaram ainda mais. A decisão, publicada nesta quarta-feira (9) na rede social Truth Social, ocorre após semanas de tensão nos mercados financeiros internacionais e pressões diplomáticas crescentes.
A própria mensagem do ex-presidente norte-americano deixa pistas claras: mais de 75 países entraram em contato com Washington em busca de negociações bilaterais. Segundo Trump, essas nações “não retaliaram”, o que justificaria a concessão de uma pausa nas sobretaxas. A medida foi também uma resposta direta ao colapso dos mercados globais, iniciado após o anúncio original do tarifaço em 2 de abril, que impunha tarifas de até 100% sobre diversos produtos importados pelos EUA.
A suspensão parece menos uma concessão econômica e mais uma manobra política, para conter os efeitos internos do impacto financeiro e tentar isolar a China em uma estratégia de confronto comercial.
Pequim reagiu ao tarifaço inicial com retaliações diretas: uma sobretaxa de 84% sobre produtos norte-americanos. Trump respondeu com ainda mais rigor: a tarifa dos EUA sobre produtos chineses subiu para 125%. A exclusão da China do acordo reflete não apenas o acirramento da disputa comercial, mas também o reposicionamento geopolítico de Washington diante da influência crescente de Pequim no mercado global.
Mesmo assim, o mercado acionário chinês teve alta — reflexo de um alívio generalizado na aversão ao risco, já que outras economias asiáticas respiraram com o alívio temporário nas tarifas.
A resposta foi imediata:
Tóquio: +9,12% no índice Nikkei
Seul: +6,6%
Austrália: +4,5%
Xangai: +1,16%
Hong Kong: +2,06%
Frankfurt (DAX): +4,95%
Londres (FTSE 100): +3,86%
França (CAC 40): +4,92%
Stoxx 600 (Europa): +4,16% (após alta inicial de 5%)
Mesmo o Ibovespa, no Brasil, refletiu a trégua internacional com um salto de 3,11%, enquanto o dólar caiu 2,52%, fechando em R$ 5,84.
O único ponto de cautela veio dos próprios EUA: os índices futuros operaram em queda após a explosão de ontem — o S&P 500 havia disparado 9,5%, e o Nasdaq, mais de 12%, o maior salto desde a bolha pontocom. A queda de hoje parece ser uma realização de lucros, algo comum após altas tão abruptas.
A trégua parcial imposta por Trump tem efeitos imediatos e outros de médio prazo:
Redução da volatilidade nos mercados globais, ao menos temporariamente;
Alívio sobre cadeias produtivas altamente integradas internacionalmente, que estavam ameaçadas por um ambiente protecionista;
Isolamento estratégico da China, cuja exclusão pode ser lida como o prenúncio de uma nova rodada de embates comerciais;
Risco de recaída: o prazo de 90 dias é curto e sujeito a reviravoltas políticas e geopolíticas.
O índice de volatilidade europeu V2TX ainda se mantém elevado (34,5 pontos), o que indica que os investidores continuam cautelosos.
Mais do que uma medida econômica, a suspensão seletiva do tarifaço deve ser lida como uma jogada política de alto risco, mirando a retomada de protagonismo de Trump no cenário eleitoral. Ao oferecer trégua a aliados e endurecer contra a China, ele reforça sua retórica de “America First” e tenta criar uma divisão clara entre “parceiros” e “inimigos”.
Mas essa divisão simplista pode ter efeitos colaterais perigosos, especialmente se outros países começarem a exigir condições semelhantes ou se houver nova escalada entre Washington e Pequim.
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