A guerra comercial entre Estados Unidos e China deu mais um passo rumo à radicalização. O presidente americano Donald Trump aumentou as tarifas sobre produtos chineses para 125%, dificultando severamente a entrada dessas mercadorias no mercado americano. Em resposta, a China redireciona sua estratégia exportadora, mirando novos destinos - e o Brasil está na mira.
Enquanto isso, a indústria brasileira acende o alerta vermelho: setores como têxteis, calçados, eletroeletrônicos e siderurgia temem uma avalanche de produtos chineses que, antes destinados aos EUA, agora podem inundar o mercado nacional.
Analistas apontam duas linhas de ação por parte de Pequim:
Abrir novos mercados emergentes para compensar a perda no consumo norte-americano.
Aumentar as exportações para parceiros já estabelecidos, como o Brasil, que possui laços comerciais sólidos com os chineses.
A lógica é simples: se os EUA não compram, os excedentes precisam ir para outro lugar - e o Brasil surge como alvo preferencial, devido ao tamanho do mercado e à fragilidade de suas políticas comerciais.
A lista de setores vulneráveis não é curta - e, em muitos casos, a preocupação é justificada:
Setor | Riscos e Impactos |
---|---|
Têxtil e Confecção | Perda de competitividade, fechamento de fábricas, aumento do desemprego. |
Calçadista | Preços asiáticos artificialmente baixos derrubam a produção nacional. |
Eletroeletrônicos | Produtos chineses com baixa qualidade e preço agressivo comprometem marcas locais. |
Siderurgia | Aço chinês chega abaixo do preço de custo da matéria-prima no Brasil. |
Sim. A ameaça é real e histórica. O Brasil já enfrentou surtos de "dumping asiático" - quando produtos estrangeiros entram com preços abaixo do custo de produção local. Muitas vezes, isso é facilitado por subsídios estatais ocultos e flexibilizações ambientais e trabalhistas inexistentes no Brasil.
Além disso, o déficit de infraestrutura, a carga tributária e o custo Brasil já tornam a indústria nacional pouco competitiva. A chegada de produtos asiáticos baratos pode destruir cadeias produtivas inteiras - com reflexos no emprego, nos investimentos e no crescimento econômico.
A indústria nacional clama por respostas rápidas e coordenadas do governo federal. Entre as propostas em discussão estão:
Elevação de tarifas temporárias sobre produtos importados com risco de dumping.
Criação de barreiras técnicas e sanitárias, como exigências de qualidade e certificações.
Aperfeiçoamento do sistema de defesa comercial, especialmente nos órgãos de monitoramento de importações.
Acordos comerciais alternativos, como acelerar as tratativas Mercosul–União Europeia.
Incentivos fiscais e apoio logístico à indústria nacional, para aumento da competitividade.
Ainda de forma tímida. O governo anunciou tarifas de importação sobre 100 produtos recentemente, mas especialistas consideram as medidas insuficientes e reativas. Falta uma estratégia estruturada de proteção e estímulo à indústria nacional, especialmente diante de um cenário global de protecionismo crescente.
Se o Brasil continuar desprotegido diante desse redirecionamento do comércio chinês, os efeitos serão profundos:
Desindustrialização acelerada em vários polos regionais.
Perda de milhares de empregos formais.
Queda nos investimentos privados.
Dependência maior de importados e vulnerabilidade cambial.
Estagnação do PIB industrial, setor que já representa menos de 10% da economia brasileira.
O Brasil está diante de um dilema geoeconômico: acompanhar passivamente a movimentação do tabuleiro global ou reposicionar sua política industrial e comercial com inteligência e rapidez.
O risco não é apenas ser o para-raios da guerra entre gigantes, mas se tornar um depósito de excedentes industriais de baixa qualidade, enquanto sua própria indústria perece lentamente - silenciosa e desamparada.
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