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Economia INDÚSTRIA AMEAÇADA

Indústria brasileira em alerta com “invasão” chinesa após tarifaço de Trump

Guerra tarifária entre EUA e China pressiona exportações asiáticas para o Brasil, e setores nacionais temem colapso competitivo

10/04/2025 às 06h00
Por: Douglas Ferreira
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O Brasil pode ficar numa “sinuca de bico”, caso a China busque despejar os produtos excedentes por contra a guerra tarifária no mercado brasileiro - Foto: Reprodução
O Brasil pode ficar numa “sinuca de bico”, caso a China busque despejar os produtos excedentes por contra a guerra tarifária no mercado brasileiro - Foto: Reprodução

O que está acontecendo?

A guerra comercial entre Estados Unidos e China deu mais um passo rumo à radicalização. O presidente americano Donald Trump aumentou as tarifas sobre produtos chineses para 125%, dificultando severamente a entrada dessas mercadorias no mercado americano. Em resposta, a China redireciona sua estratégia exportadora, mirando novos destinos - e o Brasil está na mira.

Enquanto isso, a indústria brasileira acende o alerta vermelho: setores como têxteis, calçados, eletroeletrônicos e siderurgia temem uma avalanche de produtos chineses que, antes destinados aos EUA, agora podem inundar o mercado nacional.


Qual é a estratégia da China diante do bloqueio americano?

Analistas apontam duas linhas de ação por parte de Pequim:

  1. Abrir novos mercados emergentes para compensar a perda no consumo norte-americano.

  2. Aumentar as exportações para parceiros já estabelecidos, como o Brasil, que possui laços comerciais sólidos com os chineses.

A lógica é simples: se os EUA não compram, os excedentes precisam ir para outro lugar - e o Brasil surge como alvo preferencial, devido ao tamanho do mercado e à fragilidade de suas políticas comerciais.


Quais setores brasileiros estão em risco?

A lista de setores vulneráveis não é curta - e, em muitos casos, a preocupação é justificada:

Setor Riscos e Impactos
Têxtil e Confecção Perda de competitividade, fechamento de fábricas, aumento do desemprego.
Calçadista Preços asiáticos artificialmente baixos derrubam a produção nacional.
Eletroeletrônicos Produtos chineses com baixa qualidade e preço agressivo comprometem marcas locais.
Siderurgia Aço chinês chega abaixo do preço de custo da matéria-prima no Brasil.

As preocupações procedem?

Sim. A ameaça é real e histórica. O Brasil já enfrentou surtos de "dumping asiático" - quando produtos estrangeiros entram com preços abaixo do custo de produção local. Muitas vezes, isso é facilitado por subsídios estatais ocultos e flexibilizações ambientais e trabalhistas inexistentes no Brasil.

Além disso, o déficit de infraestrutura, a carga tributária e o custo Brasil já tornam a indústria nacional pouco competitiva. A chegada de produtos asiáticos baratos pode destruir cadeias produtivas inteiras - com reflexos no emprego, nos investimentos e no crescimento econômico.


O que pode (e deve) ser feito?

A indústria nacional clama por respostas rápidas e coordenadas do governo federal. Entre as propostas em discussão estão:

  • Elevação de tarifas temporárias sobre produtos importados com risco de dumping.

  • Criação de barreiras técnicas e sanitárias, como exigências de qualidade e certificações.

  • Aperfeiçoamento do sistema de defesa comercial, especialmente nos órgãos de monitoramento de importações.

  • Acordos comerciais alternativos, como acelerar as tratativas Mercosul–União Europeia.

  • Incentivos fiscais e apoio logístico à indústria nacional, para aumento da competitividade.


O governo brasileiro está ao lado da indústria?

Ainda de forma tímida. O governo anunciou tarifas de importação sobre 100 produtos recentemente, mas especialistas consideram as medidas insuficientes e reativas. Falta uma estratégia estruturada de proteção e estímulo à indústria nacional, especialmente diante de um cenário global de protecionismo crescente.


E se nada for feito?

Se o Brasil continuar desprotegido diante desse redirecionamento do comércio chinês, os efeitos serão profundos:

  • Desindustrialização acelerada em vários polos regionais.

  • Perda de milhares de empregos formais.

  • Queda nos investimentos privados.

  • Dependência maior de importados e vulnerabilidade cambial.

  • Estagnação do PIB industrial, setor que já representa menos de 10% da economia brasileira.


Conclusão: uma escolha estratégica

O Brasil está diante de um dilema geoeconômico: acompanhar passivamente a movimentação do tabuleiro global ou reposicionar sua política industrial e comercial com inteligência e rapidez.

O risco não é apenas ser o para-raios da guerra entre gigantes, mas se tornar um depósito de excedentes industriais de baixa qualidade, enquanto sua própria indústria perece lentamente - silenciosa e desamparada.

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