A queda do dólar nesta quarta-feira (9), de 2,53%, para R$ 5,84, teve um fator determinante: a fala de Donald Trump anunciando uma pausa parcial nas tarifas sobre produtos estrangeiros, com limite de 10% por 90 dias. Essa sinalização de trégua nas hostilidades comerciais entre EUA e China restaurou temporariamente a confiança dos investidores, que correram para ativos de risco — como ações brasileiras — e abandonaram a segurança do dólar.
Trump, com sua conhecida estratégia de barganha agressiva, dobrou a aposta contra a China ao elevar tarifas para 125%, mas, quase simultaneamente, acenou com disposição para negociar ao anunciar a limitação temporária das sobretaxas.
Ou seja, foi um movimento calculado: ele endureceu o jogo com Pequim, mas piscou para os mercados. A reação foi imediata:
Dólar caiu;
Ibovespa subiu 3,12%;
Wall Street disparou, com Nasdaq em alta de 8,16%.
O mercado, sensível a qualquer gesto de descompressão nas tensões globais, interpretou o recuo tarifário como uma possível abertura para acordos futuros.
Definitivamente, não. A guerra segue acesa — talvez ainda mais intensa. A pausa anunciada por Trump não vale para a China. Pelo contrário:
Os EUA impuseram tarifa de 125% sobre produtos chineses.
A China respondeu com 84% de sobretaxa sobre produtos norte-americanos.
Essa escalada mostra que, apesar da tentativa de Trump de controlar a narrativa perante o mercado, Pequim não recuou e promete "ir até o fim".
A declaração de Trump funcionou como uma injeção de alívio no curto prazo:
Bolsas de valores em Wall Street explodiram em alta, em reação imediata ao “respiro”.
Moedas de países emergentes, como o real, se valorizaram com o fluxo de capital estrangeiro voltando para mercados de risco.
Empresas brasileiras exportadoras ganharam fôlego com o câmbio ainda elevado, mas menos volátil.
Contudo, o efeito pode ser passageiro. Como afirmou Leonel Oliveira Mattos, analista da Stonex:
“É difícil subestimar o potencial destrutivo de uma guerra entre as duas maiores economias do mundo. A fala de Trump alivia, mas não encerra nada.”
O Brasil vive uma dança delicada:
Com a alta do dólar, produtos importados encarecem, o que pressiona a inflação.
Ao mesmo tempo, exportadores brasileiros se beneficiam com a moeda americana valorizada.
Empresas com dívidas em dólar ou com forte dependência de insumos importados sofrem.
A trégua anunciada impulsionou a Bolsa brasileira e trouxe alívio momentâneo. Mas a instabilidade na relação sino-americana afeta diretamente a economia brasileira, que depende das duas potências como principais parceiros comerciais.
A guerra comercial segue como um jogo de xadrez geopolítico, em que cada movimento serve mais à construção de vantagem estratégica do que à resolução definitiva. A pausa tarifária de Trump não significa paz, mas uma reorganização no campo de batalha.
Nos próximos dias, os mercados estarão atentos a:
Novas falas de Trump ou autoridades chinesas.
Reações formais da China à proposta de trégua parcial.
Movimentos diplomáticos paralelos, como os esforços do Japão e da União Europeia para conter o efeito dominó.
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