Uma economia não colapsa da noite para o dia; ela dá sinais de que o mercado não está bem. Um dos alertas mais preocupantes é a escalada no número de pedidos de recuperação judicial, que se intensificou a partir de 2023 e continua crescendo em 2025, atingindo empresas de diversos setores da economia. O fechamento de grandes indústrias e a demissão de milhares de trabalhadores refletem um cenário econômico instável e preocupante para o futuro do Brasil.
Nos primeiros meses de 2025, empresas de setores estratégicos anunciaram encerramento de atividades e demissões em larga escala. Em janeiro, o setor alimentício sofreu um duro golpe com o fechamento da unidade da Piraquê em São Paulo, resultando na demissão de 500 funcionários. Agora, outro grande nome da indústria, a Aeris Energy, anunciou a paralisação de suas atividades e a demissão de 700 trabalhadores.
A Aeris, fabricante de pás eólicas, enfrenta um cenário desafiador devido à baixa demanda por novos contratos no setor de geração eólica. Sem perspectivas de novos clientes e com dificuldades financeiras, a empresa se viu forçada a renegociar prazos de dívidas e buscar alternativas para manter suas operações. Em uma tentativa de solução, iniciou uma conversa com a chinesa Sinoma Blade para uma possível aquisição, mas a negociação não avançou. A falta de investidores e o declínio da demanda resultaram na demissão de 700 funcionários, elevando o número total de cortes da Aeris para 5 mil nos últimos dois anos.
O crescimento dos pedidos de recuperação judicial é um reflexo direto da crise enfrentada pelo setor produtivo brasileiro. Em 2024, o Brasil registrou 2.273 pedidos de recuperação judicial, o maior índice desde o início da série histórica em 2014. Esse número representa um aumento de 61,8% em relação ao ano anterior, segundo o Indicador de Falência e Recuperação Judicial da Serasa Experian.
Dentre os setores mais afetados estão:
Serviços: 928 pedidos
Comércio: 575 pedidos
Agronegócio: 423 pedidos
Indústria: 347 pedidos
As micro e pequenas empresas foram as mais impactadas, representando 1.676 dos pedidos de recuperação judicial em 2024, um crescimento de 78,4% em comparação com 2023.
Atualmente, cerca de 6,9 milhões de empresas estão inadimplentes, o equivalente a 31,6% das empresas brasileiras. O aumento da taxa básica de juros (Selic) para 12,25% ao ano, iniciado pelo Banco Central em novembro de 2024, ainda não teve impacto total na economia, mas especialistas alertam que seus efeitos devem ser sentidos nos próximos meses, podendo piorar ainda mais a situação financeira das empresas.
Apesar desse cenário, houve uma leve redução no número de falências em 2024, totalizando 949 pedidos, uma queda de 3,5% em relação a 2023. Esse fator indica que, mesmo em crise, algumas empresas ainda encontram alternativas para evitar o encerramento definitivo das atividades.
Diante desse cenário, a grande preocupação dos economistas é se esse movimento de falências e recuperações judiciais representa uma crise estrutural irreversível ou se há saídas para a retomada econômica. O aumento do desemprego causado pelo fechamento de grandes indústrias impacta diretamente o consumo, criando um ciclo negativo na economia.
Especialistas defendem que medidas governamentais, como incentivos fiscais e redução da carga tributária, podem ser necessárias para reverter o atual quadro. Além disso, a facilitação do acesso ao crédito para pequenas e médias empresas pode ajudar a reduzir o número de recuperações judiciais e evitar que mais companhias fechem as portas.
Enquanto isso, a população segue apreensiva com os desdobramentos desse cenário, temendo que o agravamento da crise resulte em um impacto ainda maior no mercado de trabalho e na economia como um todo.
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