O processo movido pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos contra o Google, por práticas anticompetitivas, está gerando um efeito colateral preocupante: a possível extinção do navegador Mozilla Firefox. Desde 2023, o governo americano trava uma batalha judicial para reduzir o monopólio da gigante das buscas, propondo medidas como o fim dos acordos que definem o Google como mecanismo de busca padrão. Um desses acordos, justamente com o Firefox, representa cerca de 85% da receita da Mozilla — o que coloca o futuro do navegador em risco.
Com o possível fim desse repasse, a Mozilla projeta cortes severos, especialmente na equipe de engenharia responsável pelo desenvolvimento do Firefox. A ameaça financeira pode iniciar uma “espiral descendente”, segundo o CFO da fundação, Eric Muhlheim, resultando em queda de qualidade do produto, perda de usuários e agravamento da crise. Tentativas anteriores de substituição do Google por outros buscadores, como Yahoo e Bing, mostraram-se economicamente inviáveis, levando até à fuga de usuários.
Além do impacto financeiro, o eventual colapso do Firefox levanta preocupações mais amplas para a internet. O navegador é o único de grande alcance cujo motor de renderização — o Gecko — não é controlado por uma big tech. O desaparecimento do Firefox significaria a consolidação quase total do Chromium, do Google, como padrão dominante nos navegadores, enfraquecendo a diversidade tecnológica e a liberdade de desenvolvimento da web.
Embora a Mozilla explore novas fontes de receita com projetos de inteligência artificial e publicidade digital ética, essas iniciativas ainda não compensam a dependência do acordo com o Google. Caso não encontre uma solução sustentável, a queda do Firefox pode marcar o fim de uma era na internet — e um triunfo irônico do monopólio que as medidas regulatórias tentam justamente combater.
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