O dia ainda nem havia clareado quando um cenário absolutamente surreal tomou conta da BR-316, nas imediações de Picos, no Sul do Piauí: um caixão com um cadáver dentro, largado no acostamento da rodovia como se fosse uma carga qualquer.
Sim, você leu certo. Um corpo em plena beira da estrada. Sozinho. Silencioso. E esquecido.
A situação, digna de um roteiro de cinema macabro, foi registrada na madrugada do domingo (8). Populares que passavam pela via se depararam com a urna funerária abandonada e, estarrecidos, acionaram a polícia.
Segundo apuração do portal RiachoNet, o caixão teria se soltado do carro funerário em movimento, sem que o motorista sequer percebesse. O veículo pertencia a uma empresa de Picos e fazia o translado do corpo para a cidade de Pimenteiras.
O condutor, ao ser localizado, retornou calmamente ao local, apresentou a documentação regular do transporte e recolheu o corpo - agora com a imprensa, os curiosos e a polícia como testemunhas de um erro grotesco. O cadáver, por sorte ou milagre, não apresentava sinais de violência. Mas e quanto ao respeito?
Casos bizarros de urnas perdidas ou trocadas em funerárias até já se tornaram anedotas mórbidas contadas em rodas de conversa. Mas um caixão com cadáver perdido no acostamento de uma rodovia federal é mais do que folclore: é uma denúncia escancarada do amadorismo que ainda permeia certos serviços essenciais no interior do Brasil.
Quem era o morto? De onde vinha? Para onde ia? Como o motorista só sentiu falta do “passageiro” após ser chamado pela polícia? As perguntas se empilham mais rápido do que os memes que a história já está rendendo nas redes sociais.
Em tempos de vigilância, rastreio por GPS e responsabilidade civil, não é aceitável que um corpo humano seja tratado como carga secundária. A história trágico-cômica escancara não apenas a precariedade do transporte funerário em algumas regiões, mas também a naturalização do desrespeito à dignidade da pessoa humana até mesmo depois da morte.
No fim, o cadáver chegou ao seu destino. Mas não sem antes fazer sua última viagem render manchetes e levantar um debate incômodo: afinal, se nem os mortos estão seguros no Brasil, o que dirá os vivos?
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