Em tempos de incertezas geopolíticas, insegurança alimentar e crescente demanda por proteína e laticínios, o agronegócio se tornou um dos ativos mais cobiçados do planeta. E é nesse cenário que uma das maiores e mais modernas fazendas leiteiras do México, a Tecnología Ganadera Tropical (TGT), foi colocada à venda — e não por qualquer valor ou motivo. O que está em jogo vai muito além da pecuária: é uma disputa por território, produção e influência global em pleno solo tropical.
Com 1.562 hectares, mais de 120 piquetes com água, rebanhos selecionados de bovinos e caprinos, modelo agroflorestal regenerativo e genética avançada da raça Australian Friesian Sahiwal (AFS), a fazenda localizada em Campeche, na Península de Yucatán, está pronta para ser vendida “porteira fechada”. Isso significa que quem comprar leva tudo: terras tituladas, operação em pleno funcionamento, equipe técnica, infraestrutura de ponta e um ativo altamente produtivo em um dos mercados mais estratégicos do hemisfério.
A negociação, conduzida pela agência internacional Brown&Co, faz parte de uma articulação global da International Ag Alliance, que mira investidores de peso interessados em diversificar portfólios fora dos tradicionais Estados Unidos, Europa ou Oceania. O motivo é claro: os trópicos viraram o novo campo de batalha do agronegócio de alta performance.
A decisão não se dá por crise ou baixa rentabilidade — muito pelo contrário. O México vive um momento de valorização do leite, com o governo da recém-empossada presidente Claudia Sheinbaum apostando na produção nacional para reduzir dependência externa. Há subsídios, linhas de crédito, preços garantidos e até apoio à construção de plantas de pasteurização. É um ambiente perfeito para quem já tem estrutura, genética e produtividade.
A fazenda, com ordenha para 300 vacas e preço médio de US$ 0,60/litro, bem acima da média local, é um exemplo vivo de sucesso agropecuário — e, talvez por isso mesmo, se torne alvo de grandes grupos com apetite global.
Fontes do mercado apontam que há sondagens vindas de conglomerados asiáticos, fundos soberanos do Oriente Médio e grupos europeus que já investem em proteína animal e querem garantir acesso direto a mercados latino-americanos. Outros veem na propriedade uma base estratégica para abastecer a América Central e até mesmo o sul dos Estados Unidos, dada sua localização privilegiada.
O interesse estrangeiro em fazendas tropicais como a TGT não é coincidência. Países como México, Brasil, Colômbia e Indonésia passaram a ser vistos como celeiros do futuro, capazes de produzir em escala, com baixo custo relativo e clima favorável o ano inteiro. A união entre tecnologia, sustentabilidade e políticas públicas tornou essas regiões atrativas para grandes investidores institucionais e grupos do agro familiar em busca de diversificação global.
Enquanto investidores internacionais batem à porta com milhões de dólares e promessas de inovação, cresce também o debate sobre soberania alimentar, ocupação de terras estratégicas e controle de cadeias produtivas essenciais, como a do leite. Afinal, até que ponto o Brasil, o México e outros países devem ceder seu território produtivo a interesses externos?
A venda da TGT pode ser apenas o primeiro de muitos movimentos. Mas uma coisa é certa: o leite tropical se tornou ouro branco — e agora, o mundo inteiro quer um pedaço.
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