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Agro NEGÓCIO DOS TROPIAL

Por que uma gigante das fazendas leiteiras está à venda? O jogo estratégico por trás da corrida global pelo leite tropical

Com estrutura de ponta, genética de elite e incentivos governamentais, a venda da TGT no México atrai investidores globais e expõe o apetite estrangeiro por ativos estratégicos do agro em zonas tropicais

06/06/2025 às 06h00
Por: Douglas Ferreira Fonte: Com informações CompreRural
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Com mais de 120 piquetes formados e com água, referência em produção tropical de leite e uma das maiores e mais bem estruturadas fazendas leiteiras de 1.562 hectares pode mudar de mãos em meio a incentivos do governo e alta demanda por laticínios - Foto:
Com mais de 120 piquetes formados e com água, referência em produção tropical de leite e uma das maiores e mais bem estruturadas fazendas leiteiras de 1.562 hectares pode mudar de mãos em meio a incentivos do governo e alta demanda por laticínios - Foto:

Em tempos de incertezas geopolíticas, insegurança alimentar e crescente demanda por proteína e laticínios, o agronegócio se tornou um dos ativos mais cobiçados do planeta. E é nesse cenário que uma das maiores e mais modernas fazendas leiteiras do México, a Tecnología Ganadera Tropical (TGT), foi colocada à venda — e não por qualquer valor ou motivo. O que está em jogo vai muito além da pecuária: é uma disputa por território, produção e influência global em pleno solo tropical.

Com 1.562 hectares, mais de 120 piquetes com água, rebanhos selecionados de bovinos e caprinos, modelo agroflorestal regenerativo e genética avançada da raça Australian Friesian Sahiwal (AFS), a fazenda localizada em Campeche, na Península de Yucatán, está pronta para ser vendida “porteira fechada”. Isso significa que quem comprar leva tudo: terras tituladas, operação em pleno funcionamento, equipe técnica, infraestrutura de ponta e um ativo altamente produtivo em um dos mercados mais estratégicos do hemisfério.

A negociação, conduzida pela agência internacional Brown&Co, faz parte de uma articulação global da International Ag Alliance, que mira investidores de peso interessados em diversificar portfólios fora dos tradicionais Estados Unidos, Europa ou Oceania. O motivo é claro: os trópicos viraram o novo campo de batalha do agronegócio de alta performance.

Mas por que vender agora?

A decisão não se dá por crise ou baixa rentabilidade — muito pelo contrário. O México vive um momento de valorização do leite, com o governo da recém-empossada presidente Claudia Sheinbaum apostando na produção nacional para reduzir dependência externa. Há subsídios, linhas de crédito, preços garantidos e até apoio à construção de plantas de pasteurização. É um ambiente perfeito para quem já tem estrutura, genética e produtividade.

A fazenda possui uma sala de ordenha com capacidade para 300 vacas - Foto: Reprodução

A fazenda, com ordenha para 300 vacas e preço médio de US$ 0,60/litro, bem acima da média local, é um exemplo vivo de sucesso agropecuário — e, talvez por isso mesmo, se torne alvo de grandes grupos com apetite global.

Quem são os interessados?

Fontes do mercado apontam que há sondagens vindas de conglomerados asiáticos, fundos soberanos do Oriente Médio e grupos europeus que já investem em proteína animal e querem garantir acesso direto a mercados latino-americanos. Outros veem na propriedade uma base estratégica para abastecer a América Central e até mesmo o sul dos Estados Unidos, dada sua localização privilegiada.

Tropicais e lucrativas: o novo mapa do agro global

O interesse estrangeiro em fazendas tropicais como a TGT não é coincidência. Países como México, Brasil, Colômbia e Indonésia passaram a ser vistos como celeiros do futuro, capazes de produzir em escala, com baixo custo relativo e clima favorável o ano inteiro. A união entre tecnologia, sustentabilidade e políticas públicas tornou essas regiões atrativas para grandes investidores institucionais e grupos do agro familiar em busca de diversificação global.

Venda ou colonização?

Enquanto investidores internacionais batem à porta com milhões de dólares e promessas de inovação, cresce também o debate sobre soberania alimentar, ocupação de terras estratégicas e controle de cadeias produtivas essenciais, como a do leite. Afinal, até que ponto o Brasil, o México e outros países devem ceder seu território produtivo a interesses externos?

A venda da TGT pode ser apenas o primeiro de muitos movimentos. Mas uma coisa é certa: o leite tropical se tornou ouro branco — e agora, o mundo inteiro quer um pedaço.

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