A queda nas importações chinesas de soja brasileira em abril de 2025 - o menor volume em dez anos, segundo a Administração Geral de Alfândega da China - tem motivos concretos e preocupantes. O Brasil, maior exportador mundial de soja, enfrenta gargalos internos que afetam diretamente sua competitividade, enquanto a China, maior consumidora global, sofre impactos na produção de ração animal devido à escassez do grão.
Mas há controvérsias. Os produtores de soja do Nordeste brasileiro não percebem essa redução na demanda chinesa. O produtor José Antônio Gorgen, o Zezão, do Grupo Gees S/A - considerado o maior produtor de soja do Maranhão e com forte atuação nos cerrados piauienses - discorda da suposta queda nas exportações de soja para o mercado chinês. Mais do que isso, ele acredita que, diante das restrições decorrentes da guerra tarifária entre Estados Unidos e China, as exportações brasileiras tendem a crescer ainda mais em direção ao país asiático.
1. Atraso na colheita e embarques tardios:
O início da colheita de soja no Brasil foi mais tardio nesta safra, especialmente em Estados-chave como Mato Grosso, devido a irregularidades climáticas. Isso empurrou o calendário de exportação e reduziu a janela ideal para embarques à China.
2. Problemas logísticos graves:
A movimentação da soja dos portos brasileiros até as fábricas de esmagamento chinesas está demorando mais que o triplo do normal - de 7 a 10 dias para 20 a 25 dias. Isso gera gargalos portuários e afeta os cronogramas do mercado asiático, que depende de previsibilidade no fluxo.
3. Desembaraço alfandegário lento na China:
Atrasos também estão ocorrendo nas aduanas chinesas, afetando a liberação de cargas brasileiras. Isso compromete o fornecimento interno chinês e obriga o país a buscar fontes emergenciais ou a pagar mais caro no mercado spot.
4. Competição geopolítica:
A guerra comercial entre China e EUA cria um ambiente instável. A tarifa chinesa de 125% sobre a soja americana reduziu quase a zero as compras dos EUA. Mas, mesmo assim, a dependência do Brasil causa desconforto, e Pequim busca diversificar fornecedores, o que pode incluir Argentina, Paraguai ou até a expansão da produção doméstica.
Em boa parte, sim. Os maiores gargalos estão em infraestrutura logística, como rodovias precárias, filas portuárias e baixa capacidade de escoamento. Além disso, problemas de gestão e planejamento nas janelas de exportação e de armazenamento contribuem para os atrasos. Esses fatores:
Reduzem a competitividade do Brasil.
Aumentam os custos internos.
Comprometem a imagem de fornecedor confiável.
Sim, mas exige investimento pesado e vontade política.
Investimentos em infraestrutura (ferrovias, portos, armazéns).
Melhoria na previsibilidade logística com gestão integrada da cadeia.
Estabilidade regulatória para atrair capital privado e acelerar obras.
A longo prazo, isso não apenas resolve o gargalo, como aumenta o valor agregado do agronegócio brasileiro, favorecendo a balança comercial.
Volatilidade cambial que impacta custos de exportação.
Falta de acordos comerciais bilaterais robustos com cláusulas de garantia.
Concentração de exportações na China, o que torna o Brasil vulnerável a qualquer oscilação naquele mercado.
Analistas preveem recuperação parcial em maio e junho, com importações chinesas em torno de 11 milhões de toneladas mensais. Ainda assim, a Anec projeta exportações brasileiras abaixo do esperado, o que pode não suprir plenamente a demanda chinesa. Ou seja, o Brasil pode perder mercado mesmo tendo produto em estoque, se não resolver seus entraves.
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