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Agro O MERCADO CHINÊS

Por que a China está comprando menos soja do Brasil?

Logística falha, atraso na colheita e gargalos internos prejudicam exportações e afetam balança comercial brasileira

10/05/2025 às 09h03 Atualizada em 10/05/2025 às 15h45
Por: Douglas Ferreira
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As exportações da soja brasileira para o mercado chinês reduziram em abril, mas devem crescer diante da guerra tarifária entre EUA e China - Foto: Reprodução
As exportações da soja brasileira para o mercado chinês reduziram em abril, mas devem crescer diante da guerra tarifária entre EUA e China - Foto: Reprodução

A queda nas importações chinesas de soja brasileira em abril de 2025 - o menor volume em dez anos, segundo a Administração Geral de Alfândega da China - tem motivos concretos e preocupantes. O Brasil, maior exportador mundial de soja, enfrenta gargalos internos que afetam diretamente sua competitividade, enquanto a China, maior consumidora global, sofre impactos na produção de ração animal devido à escassez do grão.

Mas há controvérsias. Os produtores de soja do Nordeste brasileiro não percebem essa redução na demanda chinesa. O produtor José Antônio Gorgen, o Zezão, do Grupo Gees S/A - considerado o maior produtor de soja do Maranhão e com forte atuação nos cerrados piauienses - discorda da suposta queda nas exportações de soja para o mercado chinês. Mais do que isso, ele acredita que, diante das restrições decorrentes da guerra tarifária entre Estados Unidos e China, as exportações brasileiras tendem a crescer ainda mais em direção ao país asiático.

Quais são os problemas?

1. Atraso na colheita e embarques tardios:
O início da colheita de soja no Brasil foi mais tardio nesta safra, especialmente em Estados-chave como Mato Grosso, devido a irregularidades climáticas. Isso empurrou o calendário de exportação e reduziu a janela ideal para embarques à China.

2. Problemas logísticos graves:
A movimentação da soja dos portos brasileiros até as fábricas de esmagamento chinesas está demorando mais que o triplo do normal - de 7 a 10 dias para 20 a 25 dias. Isso gera gargalos portuários e afeta os cronogramas do mercado asiático, que depende de previsibilidade no fluxo.

3. Desembaraço alfandegário lento na China:
Atrasos também estão ocorrendo nas aduanas chinesas, afetando a liberação de cargas brasileiras. Isso compromete o fornecimento interno chinês e obriga o país a buscar fontes emergenciais ou a pagar mais caro no mercado spot.

4. Competição geopolítica:
A guerra comercial entre China e EUA cria um ambiente instável. A tarifa chinesa de 125% sobre a soja americana reduziu quase a zero as compras dos EUA. Mas, mesmo assim, a dependência do Brasil causa desconforto, e Pequim busca diversificar fornecedores, o que pode incluir Argentina, Paraguai ou até a expansão da produção doméstica.

O “X” do problema está no Brasil?

Em boa parte, sim. Os maiores gargalos estão em infraestrutura logística, como rodovias precárias, filas portuárias e baixa capacidade de escoamento. Além disso, problemas de gestão e planejamento nas janelas de exportação e de armazenamento contribuem para os atrasos. Esses fatores:

  • Reduzem a competitividade do Brasil.

  • Aumentam os custos internos.

  • Comprometem a imagem de fornecedor confiável.

Pode ser resolvido?

Sim, mas exige investimento pesado e vontade política.

  • Investimentos em infraestrutura (ferrovias, portos, armazéns).

  • Melhoria na previsibilidade logística com gestão integrada da cadeia.

  • Estabilidade regulatória para atrair capital privado e acelerar obras.

A longo prazo, isso não apenas resolve o gargalo, como aumenta o valor agregado do agronegócio brasileiro, favorecendo a balança comercial.

Outros fatores que agravam a situação

  • Volatilidade cambial que impacta custos de exportação.

  • Falta de acordos comerciais bilaterais robustos com cláusulas de garantia.

  • Concentração de exportações na China, o que torna o Brasil vulnerável a qualquer oscilação naquele mercado.

E agora?

Analistas preveem recuperação parcial em maio e junho, com importações chinesas em torno de 11 milhões de toneladas mensais. Ainda assim, a Anec projeta exportações brasileiras abaixo do esperado, o que pode não suprir plenamente a demanda chinesa. Ou seja, o Brasil pode perder mercado mesmo tendo produto em estoque, se não resolver seus entraves.

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