Não há ilegalidade alguma em o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, se reunir com a Contag, a maior confederação de trabalhadores do campo no Brasil. Mesmo que a entidade esteja sob investigação da Polícia Federal por envolvimento em descontos indevidos nos contracheques de aposentados e pensionistas do INSS. O problema não está no ato de se reunir, mas em omitir o encontro da agenda oficial, não divulgar o conteúdo da reunião e permitir que a transparência, mais uma vez, seja deixada de lado - justamente no epicentro de um escândalo que já derrubou dois nomes do alto escalão do governo Lula.
O encontro aconteceu na quarta-feira (7/5), em Brasília. Nenhuma menção na agenda do ministro. Nenhuma publicação em suas redes sociais. Nenhuma nota no site do MDA. O silêncio contrasta com o barulho que a Operação Sem Desconto, da Polícia Federal, causou em abril: mais de R$ 2 bilhões arrecadados por entidades sindicais em um ano - em muitos casos, de forma fraudulenta, como mostram dezenas de reportagens do portal Metrópoles.
A Contag foi alvo da operação. E mesmo tendo sido poupada de bloqueio de recursos pela AGU, os indícios contra ela são robustos. A omissão da reunião, portanto, não passa despercebida. Muito menos é ingênua. Ao esconder o encontro, Paulo Teixeira abre espaço para desconfianças legítimas:
Por que o ministro não registrou formalmente a conversa?
Qual foi a real pauta do encontro?
O que foi discutido, e por que isso não poderia ser tornado público?
O Ministério do Desenvolvimento Agrário se limitou a dizer que a Contag “é uma entidade histórica” e que os diálogos são normais. Mencionou o “Grito da Terra Brasil”, um documento com demandas da agricultura familiar. E invocou a presunção de inocência. Tudo correto - mas insuficiente.
A questão central é de postura institucional. Um ministro de Estado, no contexto de uma crise ética, moral e política envolvendo organizações “parceiras” do governo, não pode atuar na penumbra, "no escurinho do cinema". Ao contrário: deveria liderar a transparência e "acender as luzes". Fazer questão de explicitar encontros, documentar pautas, publicizar intenções. Ainda mais quando há suspeitas fundadas de uso criminoso da máquina sindical para sangrar aposentados e pensionistas, muitas vezes pobres e desinformados.
Ao esconder a reunião, Paulo Teixeira não protege o governo - apenas compromete ainda mais sua imagem. Alimenta a tese de uma relação opaca, esdrúxula e perigosa entre o Planalto e sindicatos travestidos de associações de fachada, que lucraram com a exploração sistemática de segurados do INSS.
Essa conduta contradiz os discursos de moralização da máquina pública e mina a confiança até nos setores do governo que têm boas intenções.
Se o governo Lula realmente quer virar a página do escândalo no INSS, precisa fazer mais do que devolver R$ 292 milhões aos lesados. Precisa adotar transparência plena, inclusive nas relações com seus aliados históricos, investigados ou não. E isso começa com uma atitude simples: não esconder reuniões - especialmente as que envolvem entidades sob investigação.
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