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Curiosidade TESTEMUNHA DO TEMPO

A árvore que sussurra o passado: Fóssil de 42 mil anos revela os efeitos da última inversão magnética da Terra

Descoberta na Nova Zelândia, árvore kauri milenar preserva em seus anéis os traços de um planeta em convulsão — quando o campo magnético colapsou, a radiação aumentou, a vida mudou e talvez os neandertais desapareceram. Mas o que esse fóssil ancestral quer nos dizer hoje?

14/04/2025 às 13h39
Por: Douglas Ferreira
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Exemplar de kauri de 42 mil anos dá luz a uma série de questionamentos da ciência - Foto: Reprodução
Exemplar de kauri de 42 mil anos dá luz a uma série de questionamentos da ciência - Foto: Reprodução

Foi durante uma escavação rotineira para instalação de uma usina na Nova Zelândia que operários toparam com algo absolutamente extraordinário: o fóssil de uma árvore kauri com mais de 42 mil anos. Mas não era qualquer fóssil. Perfeitamente preservada, essa árvore se transformaria em uma cápsula do tempo — uma testemunha silenciosa do último grande colapso do campo magnético da Terra.

O que os cientistas descobriram ao analisar seus anéis é, no mínimo, inquietante. A árvore viveu no exato período do chamado Evento de Laschamps, quando o campo magnético do planeta se enfraqueceu drasticamente e, por um breve tempo geológico, o norte e o sul magnéticos trocaram de lugar. Algo que já se sabia ser cíclico, mas cujos impactos reais eram envoltos em mistério.

O colapso invisível que mudou tudo

Com a inversão, o campo magnético – nosso escudo contra radiações cósmicas e solares – praticamente desapareceu, deixando a Terra exposta a um bombardeio de partículas ionizantes. A camada de ozônio foi duramente afetada, a radiação ultravioleta aumentou, e fenômenos raros como auroras boreais passaram a ocorrer em todo o globo.

A árvore, analisada com técnicas avançadas de datação por radiocarbono, registrou tudo isso. Seus anéis contam uma história de colapso ambiental, de aumento na ionização atmosférica, de mudanças abruptas no clima e talvez até de comportamentos humanos adaptativos — como o refúgio prolongado em cavernas e o uso de pigmentos ocres não apenas para arte, mas possivelmente como protetor solar primitivo.

As consequências para a vida

O estudo, publicado na Science, foi além da botânica. Ele propôs conexões ousadas: o Evento de Adams, como os autores batizaram aquele período, pode ter contribuído para eventos de extinção, como a dos neandertais, e acelerado mudanças na cultura e na migração de hominídeos.

Para a ciência, esse fóssil é um marco porque oferece, pela primeira vez, um registro cronológico preciso dos efeitos ambientais de uma inversão magnética. Não é apenas uma árvore fossilizada — é um testemunho físico de um planeta que perdeu temporariamente sua proteção natural e teve que se adaptar.

E se acontecer de novo?

O campo magnético da Terra continua em movimento, e o polo norte magnético vem migrando rapidamente pelo Hemisfério Norte. Embora ainda não haja indícios de uma inversão iminente, os cientistas olham com atenção para esses sinais. O que aconteceria com a nossa sociedade eletrônica, ultra conectada, diante de uma exposição massiva à radiação solar? Estaríamos preparados?

Essa árvore antiga, desenterrada por acaso, não é apenas um fóssil: é um alerta silencioso da história geológica da Terra. Ela nos lembra que, por mais avançados que sejamos, a natureza ainda escreve as regras fundamentais do jogo — e que o planeta guarda em si segredos capazes de revirar a vida como a conhecemos.

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