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O mar leva mais um jovem na Pedra do Sal: o que há por trás dos constantes afogamentos na praia mais icônica do Piauí?

Adolescente de 15 anos morre afogado e reabre o debate sobre segurança, fascínio pelo risco e ausência de fiscalização em um dos principais cartões-postais do litoral piauiense

14/04/2025 às 10h15 Atualizada em 14/04/2025 às 12h20
Por: Douglas Ferreira
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Kevin Costa foi a mais nova vítima das águas traiçoeiras da Pedra do Sal - Foto: Reprodução
Kevin Costa foi a mais nova vítima das águas traiçoeiras da Pedra do Sal - Foto: Reprodução

A tragédia voltou a acontecer. No último domingo (14), o mar revolto da Praia da Pedra do Sal, em Parnaíba, engoliu mais uma vida jovem. Kelvin Costa, de apenas 15 anos, estava com amigos quando foi levado pela correnteza. Seu corpo foi encontrado horas depois, já sem vida, na área dos bares. É o segundo caso em apenas 15 dias. No fim de março, outro jovem, de 20 anos, também foi arrastado pelas águas, em circunstâncias parecidas. Dois casos semelhantes, próximos no tempo e no local, que acendem um alerta antigo: o que acontece na Pedra do Sal?

A pergunta, infelizmente, não é nova. Os registros de afogamentos na região já somam dezenas nas últimas décadas. O perfil é quase sempre o mesmo: jovens, moradores locais ou turistas, que se aventuram nas águas traiçoeiras da região das pedras - um trecho belíssimo, mas traiçoeiro, que mistura beleza cênica com riscos pouco visíveis a olho nu.

O fascínio pelo perigo: por que insistem nas pedras?

A Praia da Pedra do Sal, como o nome sugere, é recortada por grandes formações rochosas que se estendem pelo mar. Um convite ao imaginário juvenil, à adrenalina, às selfies arriscadas e ao mergulho em águas profundas. O local é, sim, encantador - mas é também o ponto mais perigoso para banhistas, especialmente na maré alta ou com ondulação forte. O mar ali forma redemoinhos e correntes que surpreendem até nadadores experientes.

Mesmo assim, a cena se repete: adolescentes e jovens mergulhando entre as pedras, sem boias, sem atenção às marés e, quase sempre, sem supervisão. É como se houvesse um ritual informal entre grupos de amigos: desafiar o perigo, buscar o banho “mais radical”, provar coragem. Um fascínio pela fronteira entre o prazer e o risco.

Falta de sinalização, ausência de salva-vidas, omissão do poder público

A praia, um dos pontos turísticos mais visitados do litoral piauiense, não conta com a estrutura mínima de segurança aquática. Não há salva-vidas fixos. Não há placas claras alertando sobre os perigos das correntes, das marés, dos redemoinhos. E, quando há, estão mal posicionadas ou vandalizadas.

É como se a beleza do lugar bastasse para atrair, mas não para proteger. A responsabilidade da Prefeitura de Parnaíba e do Governo do Estado, por meio do Corpo de Bombeiros e das secretarias de turismo e segurança, é direta: por que não há equipes permanentes de resgate na praia, especialmente nos fins de semana e feriados, quando ela fica lotada? Por que não se faz uma campanha educativa constante com escolas e comunidades locais?

Um histórico ignorado

Nos últimos anos, a Praia da Pedra do Sal já coleciona casos trágicos. Jovens turistas, moradores da região, famílias em passeio. A maioria dos corpos é resgatada horas depois, quando o mar devolve o que engoliu. A falta de estatísticas oficiais atualizadas sobre o número de vítimas na Pedra do Sal é, por si só, um sintoma do descaso. Fala-se em pelo menos 30 mortes por afogamento em uma década, mas ninguém sabe o número exato.

Até quando?

Kelvin Costa não é um caso isolado. É o retrato de um padrão: juventude desprotegida, praia mal fiscalizada, mar traiçoeiro ignorado pelo turismo oficial. Até quando a Pedra do Sal será palco de tragédias anunciadas?

A beleza da praia não pode seguir sendo paga com vidas. Não basta lamentar - é preciso agir. Com sinalização, salva-vidas, campanhas educativas, presença permanente do Corpo de Bombeiros. E, sobretudo, com consciência coletiva de que o mar, mesmo encantador, não é um brinquedo.

Que a morte de Kelvin sirva de alerta, antes que mais uma vida jovem se perca no azul profundo da imprudência e da negligência.

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