O ovo virou artigo de luxo? A disparada no preço e as incertezas do mercado
Que o ovo está caro, até a galinha já sabe. Mas o que antes era a última alternativa acessível para as famílias brasileiras em tempos de crise, agora se tornou um item quase inalcançável. Com o preço unitário ultrapassando R$ 1 em diversas regiões, a tradicional cartela com trinta unidades está se aproximando do valor da tão sonhada picanha.
Afinal, o que está por trás dessa escalada de preços? Seria especulação? Reflexo do mercado global? Ou os fatores internos, como a falta de políticas eficazes para o setor, estão empurrando os preços para o alto?
Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) apontam que os valores diários dos ovos atingiram patamares recordes, com as médias mensais também estabelecendo novos picos. Em termos reais, os preços de fevereiro já são os mais altos registrados em algumas das principais regiões produtoras, como Mirandópolis/Guararapes (SP) e a Grande Belo Horizonte (MG).
A previsão de uma quinta onda de calor para os próximos dias gera preocupação no setor. Temperaturas elevadas afetam o bem-estar das aves, comprometem a produção e reduzem a qualidade dos ovos, tornando a casca mais frágil e aumentando a taxa de mortalidade das galinhas. Tudo isso impacta diretamente a oferta e, consequentemente, o preço final.
A alta no preço já começa a impactar o consumo. Comerciantes relataram ao Cepea uma desaceleração nas vendas ao varejo devido à dificuldade do consumidor em absorver os reajustes. O efeito cascata é claro: o repasse dos aumentos encarece ainda mais os ovos nas prateleiras dos supermercados, afastando compradores e reduzindo o volume de negociações.
Mesmo com essa retração no consumo, os estoques seguem baixos. Ou seja, apesar da pequena queda pontual em algumas regiões, o mercado continua pressionado e a possibilidade de novas altas não está descartada.
O Brasil enfrenta um dilema: o ovo, que sempre foi uma alternativa viável para garantir proteína de qualidade a preço acessível, pode se tornar um item de luxo. Sem a implementação de políticas eficazes para mitigar os impactos da alta dos insumos e das condições climáticas extremas, a tendência é de continuidade na volatilidade dos preços.
A pergunta que fica é: até quando o brasileiro vai conseguir pagar pelo que antes era a proteína mais acessível do país?
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