Em tempos imemoriais, houve um boi valente na tricentenária Oeiras, que ficou famoso. Ainda hoje habita o imaginário coletivo. Deu carreira em muita gente pelos becos e ruelas da cidade.
No período de estio, vinha sempre à Rua da Feira lamber sal, comer restos de frutas, ao derredor do velho Mercado e matar a sede nas, então, cristalinas águas do Mocha, riacho amigo que viu o velho burgo a nascer.
Quando uma pessoa está abespinhada, enfurecida, diz-se que se encontra igual ao “boi de Joaquim Lopes”, ignorado proprietário do animal em apreço.
Vitalina Leite, saudosista quatrocentona, já falecida, costumava lamentar que não mais via vaqueiros, encourado, tangendo gado vacum no perímetro urbano
À boca da noite de ontem (04.02.2025), um boi se soltou na hora em que seria sacrificado no Matadouro local. Rumou em direção à ampla Praça das Vitórias enquanto vaqueiros, em suas motocicletas — cena inusitada — vinham em seu encalço.
Ao chegar no aludido equipamento público —ocasião em que os munícipes faziam caminhadas, crianças jogavam bola na grama, namorados sentados nos bancos —, criou-se grande algaravia, reboliço. Ouviram-se gritos de socorro.
Entre outras pessoas apavoradas, senhoras postadas nas calçadas contemplando a bucólica paisagem, nonagenárias senhoras, minhas queridas tias, com dificuldade de locomoção, adentraram no Solar do Reis.
Conseguiram, com muito perigo e destreza, laçar o animal, apearam-no e o colocaram em cima da carroceria de um carro. Não faltaram curiosos.
Enfim, o referido boi foi morto no abatedouro. Ainda se adota ultrapassada e cruenta prática. Machadadas são aplicadas. Assusta sensíveis criatura. Ambiente onde insalubridade reina. Situação triste e revoltante!
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