A vereadora Tatiana Medeiros, presa em cela especial no Quartel do Comando Geral da PM/PI, recebeu um iPhone 16 Pro dentro da prisão - um item proibido, isso é público e notório. A Polícia Federal investiga agora, como o aparelho entrou na cela, e uma resposta dada pela própria vereadora gerou mais dúvidas que esclarecimentos.
Questionada pela PF no dia 20 de maio, quando foram encontrados um tablet e um aparelho celular em sua cela, Tatiana afirmou que 'foi meu advogado' quem levou o telefone. O problema é que, nesse mesmo dia, dois advogados distintos estiveram na cela:
Brendo Macêdo,criminalista genro da também vereadora Lucy Soares, que o acompanhou na visita e
Francisco Antônio de Aguiar Medeiros, tio da própria Tatiana.
A ambiguidade da fala da parlamentar compromete a investigação e levantou suspeitas sobre favorecimento ilegal, inclusive envolvendo familiares de figuras públicas.
Outro ponto delicado veio à tona recentemente: a juíza Gláucia Macêdo, que deixou o caso alegando “motivo íntimo”, seria 'tia' do advogado Brendo Macêdo, um dos que visitaram a cela no dia em que o celular supostamente foi entregue.
Esse vínculo não foi inicialmente declarado, o que acende um alerta sobre possível conflito de interesses. A atuação de Brendo, somada à ausência de impedimento formal da magistrada, pode comprometer a lisura do processo. A saída da juíza, embora tardia, revela o grau de contaminação institucional no caso.
Sai de cena a juíza Gláucia Mende de Macedo e assume o processo a magistada Júnia Maria Bezerra Feitosa Fialho, da 1ª Zona Eleitoral de Teresina. Esta foi a juíza que concedeu prisão domiciliar à vereadora Tatiana Medeiros.
A vereadora pode ter tido crises de ansiedade ou mesmo depressão, mas ela não ficou muito tempo sozinha durante seus dias de cárcere. Nesses dois meses de aprisionamento, Tatiana recebeu 31 visitas - uma a cada dois dias, em média. Entre os visitantes estavam:
Sua mãe, Maria Odélia Medeiros;
Assessores parlamentares;
Amigos próximos;
E o que mais chamou atenção: Leonice Cardoso Passos, identificada por Tatiana como “tia Leonice”, mas que na verdade é mãe de seu namorado, Alandilson Cardoso Passos, também preso, em Belo Horizonte/MG.
Leonice aparece inclusive em transcrições de mensagens da PF, recebendo um suposto "livro", o que para os investigadores pode ser um código para o celular entregue na cela.
As declarações desencontradas de Tatiana e de sua mãe quanto ao telefone, somadas ao posterior substituição de um dos advogados de defesa, indicam que a estratégia jurídica passa por reconfiguração. Fontes próximas ao caso afirmam que a defesa está dividida sobre como lidar com o episódio do celular, considerado peça-chave para o desdobramento do inquérito.
O caso vai muito além de uma infração disciplinar em ambiente prisional. A possível introdução ilícita de equipamento eletrônico, associada à influência indevida de familiares no Judiciário e ocultação de vínculos pessoais, pode configurar:
Obstrução de Justiça;
Quebra da paridade de armas no processo penal;
Prevaricação, caso agentes públicos tenham facilitado ou ignorado a entrada do aparelho.
O caso da vereadora Tatiana Medeiros tornou-se um labirinto jurídico-político, em que cada nova revelação escancara relações pessoais cruzadas e privilégios silenciosos. Com a PF aprofundando as investigações, cresce a pressão por transparência no Judiciário e na atuação da defesa. O celular, as visitas e os laços familiares não são apenas detalhes: podem ser peças centrais de um esquema de favorecimento e blindagem institucional.
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