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Polícia ASSESSORES AFASTADOS

Escudo Eleitoral se aprofunda: PF cerca gabinete de Tatiana Medeiros e da Câmara de Teresina

Terceira fase da operação revela que o poder de Tatiana se estendia para além das grades: assessores ligados à vereadora são afastados por suspeita de obstrução e participação em rede criminosa. A presidência da Câmara virou cenário de busca da PF

14/04/2025 às 12h40 Atualizada em 14/04/2025 às 13h19
Por: Douglas Ferreira
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A Operação Escudo Eleitoral cumpriu mandados no gabinete de Tatiana Medeiros e na presidência da Câmara - Foto: Reprodução
A Operação Escudo Eleitoral cumpriu mandados no gabinete de Tatiana Medeiros e na presidência da Câmara - Foto: Reprodução

A Operação Escudo Eleitoral, que já havia desestabilizado o discurso de "nova política" em Teresina, atingiu nesta segunda-feira (14) uma nova camada de profundidade e gravidade. A Polícia Federal cumpriu três mandados judiciais na Câmara Municipal e afastou do cargo assessores diretamente ligados à vereadora Tatiana Medeiros (PSB), presa desde 3 de abril por suspeita de ligação com a facção criminosa Bonde dos 40.

Entre os nomes afastados estão Stênio Ferreira Santos, assessor especial da presidência da Câmara e padrasto da vereadora, além de Edleny Sany Pinho de Melo e Darielly de Melo Pedreiras, ambas ex-assessoras do gabinete de Tatiana. Os três são acusados de integrar a teia de influência da parlamentar no Legislativo, e agora estão proibidos de entrar nas dependências da Câmara ou manter contato com servidores da Casa.

A nova fase da operação joga luz sobre um aspecto ainda mais perturbador: a possibilidade de que o entorno de Tatiana atuasse deliberadamente para interferir nas investigações, apagar rastros, blindar aliados e manter ativa a engrenagem criminosa operando por dentro da máquina pública.

Stênio Ferreira foi afastado do gabinete da presidência da Câmara - Foto: Rerprodução

A Câmara como bunker
A operação desta segunda-feira não poupou nem a presidência da Câmara, onde foi cumprido mandado. A presença da PF no coração do Legislativo Municipal evidencia que o escândalo não está restrito ao gabinete da vereadora. A pergunta inevitável agora é: quem sabia, quem se omitiu, quem colaborou?

Apesar da gravidade dos fatos, a resposta institucional da Câmara tem sido tímida, quase protocolar. O procurador-geral da Casa, Pedro Rycardo Couto, confirmou os afastamentos e afirmou que, "Darielly e Edleny já haviam sido exoneradas anteriormente". Mas evitou entrar no mérito político do escândalo. A presidência da Casa, por sua vez, segue em silêncio - e esse silêncio começa a soar como cumplicidade.

A operação evidencia que o mandato de Tatiana Medeiros era apenas a fachada de um projeto de poder mais amplo, financiado e sustentado, segundo a PF, por uma facção criminosa que não poupou estratégias para infiltrar o Estado e legitimar sua atuação por meio da política institucional.

Tatiana, o Bonde dos 40 e a ilusão do voto popular

Tatiana Medeiros, eleita com 2.925 votos pelo PSB em 2024, está presa desde o início do mês. A PF investiga se sua campanha foi financiada com recursos da facção Bonde dos 40, repassados por seu namorado, Alandilson Cardoso Passos, apontado como operador financeiro do grupo. Ele também foi preso - dentro de uma penitenciária mineira, onde já cumpria pena por tráfico e lavagem de dinheiro.

As investigações revelam ainda o uso de uma ONG, o Instituto Vamos Juntos, como fachada para lavar dinheiro do crime organizado. A parlamentar sequer declarou bens à Justiça Eleitoral, o que, para os investigadores, pode ser parte de um esquema de dissimulação patrimonial.

Crise moral e institucional

A Operação Escudo Eleitoral já não é apenas um caso criminal - é um terremoto político. E como toda fissura estrutural, ou será enfrentada com coragem, ou consumirá a credibilidade do que resta das instituições envolvidas.

A Câmara de Teresina está sendo chamada à responsabilidade. Cada nova fase da operação revela não só os crimes, mas o ambiente permissivo que os abrigou. A omissão agora será interpretada não como cautela, mas como conivência.

Enquanto o Judiciário e a Polícia Federal avançam no desmonte do esquema, o Legislativo permanece paralisado diante da lama que lhe cobre os pés. O cerco está fechado - e a crise já não cabe debaixo do tapete.

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