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Toyota escolhe Argentina para fabricar Hilux elétrica e Brasil fica fora da rota dos investimentos

Montadora japonesa aposta em solo argentino para expandir produção de elétricos e driblar tarifas dos EUA; Brasil perde protagonismo industrial na América do Sul

10/04/2025 às 06h10
Por: Douglas Ferreira Fonte: Com informações CPG
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A Hilux elétrica marca a entrada da montadora japonesa no mercado de elétricos - Foto: Reprodução
A Hilux elétrica marca a entrada da montadora japonesa no mercado de elétricos - Foto: Reprodução

A grande virada da Toyota

A Toyota confirmou aquilo que já era especulado nos bastidores da indústria automotiva: a produção da Hilux elétrica será na Argentina, com início previsto até 2026. A picape 100% elétrica vai marcar a entrada definitiva da montadora japonesa no mercado global de veículos elétricos, colocando a América do Sul no mapa da eletrificação. Mas não o Brasil.

A decisão de escolher a unidade de Zárate, na Argentina, reacende um velho debate: por que o Brasil, maior economia da região e principal mercado da Toyota na América Latina, ficou de fora?


Por que o Brasil foi preterido?

A escolha da Argentina não foi um acaso. A Toyota analisou questões estratégicas, fiscais e geopolíticas antes de tomar a decisão. Eis os principais fatores:

1. Estrutura já consolidada em Zárate

A planta argentina de Zárate já fabrica a Hilux com motor a combustão, o que facilita a transição tecnológica e logística para o modelo elétrico. A base produtiva está pronta, bastando modernizações - algo mais barato e rápido do que instalar uma fábrica do zero no Brasil.

2. Incentivos fiscais e estabilidade contratual

Apesar da crise econômica, a Argentina tem oferecido pacotes agressivos de incentivos à indústria automotiva, incluindo:

  • Reduções de impostos de importação para componentes de veículos elétricos.

  • Subsídios à energia elétrica.

  • Acordos bilaterais vantajosos para exportação.

Além disso, os contratos industriais têm sido mais estáveis e previsíveis, algo que o Brasil não tem garantido nos últimos anos, com mudanças tributárias constantes e uma política industrial errática.

3. Custo Brasil em alta

No Brasil, a carga tributária, o custo logístico e a burocracia ainda são entraves sérios à atração de investimentos produtivos. Enquanto isso, a Argentina oferece, mesmo em crise, um pacote coordenado de incentivo à produção industrial com foco em inovação.


Brasil perdeu uma chance histórica?

Sem rodeios: sim. O Brasil poderia ter sido o hub Sul-americano da transição energética automotiva, mas perdeu mais uma vez para um concorrente com menos musculatura econômica, mas mais coordenação institucional.

Além disso, a ausência de uma política nacional robusta de incentivo a veículos elétricos joga contra o país. Enquanto isso, China, Estados Unidos e até a Argentina já estão com planos industriais claros e investimentos direcionados.


E os impactos regionais?

A decisão da Toyota tem efeito dominó na geopolítica industrial da América do Sul:

  • Argentina ganha protagonismo industrial e tecnológico.

  • Brasil corre o risco de virar apenas mercado consumidor, sem papel relevante na cadeia produtiva de veículos elétricos.

  • O Mercosul pode se reposicionar, com a Argentina liderando os projetos de transição energética no setor automotivo.

  • Empresas globais podem seguir o mesmo caminho, optando por investir em países com políticas mais claras e menos instabilidade tributária.


Tem relação com a guerra tarifária dos EUA?

Tem, sim - e muita. A Toyota quer fugir das tarifas americanas sobre produtos fabricados na Ásia, que foram elevadas sob Trump e podem continuar mesmo com um novo governo. Produzir na América do Sul permite exportar ao mercado norte-americano com menor custo e menos barreiras, via acordos bilaterais e triangulações comerciais.


Hilux elétrica é só o começo?

Sim. A Toyota tem um plano ambicioso de lançar 15 modelos elétricos até 2027. A Hilux elétrica inaugura a linha Sul-americana, mas a tendência é que outros modelos sejam produzidos na região, dependendo da infraestrutura e incentivos de cada país.

A nova Hilux terá versões:

  • 100% elétrica (BEV)

  • Híbrida leve (mild hybrid)

  • Híbrida convencional

  • A combustão (gasolina, diesel e GNV)

  • Movida a hidrogênio (em testes)

A ideia da Toyota é atacar todos os segmentos, desde o urbano até o rural e industrial, oferecendo opções com menor emissão de carbono.


Conclusão: o Brasil precisa de uma política industrial do século XXI

A decisão da Toyota escancara um problema estrutural: o Brasil continua refém de uma política industrial atrasada, sem foco em inovação e sem clareza para investidores globais. A eletrificação da frota global não vai esperar Brasília se organizar.

Se o país quiser participar da nova era automotiva, vai precisar:

  • Rever seus modelos de incentivo

  • Simplificar sua carga tributária

  • Investir pesado em infraestrutura elétrica e mobilidade sustentável

  • Criar segurança jurídica para atração de indústrias de alta tecnologia

Enquanto isso não acontece, ficaremos assistindo pela janela a transformação que poderíamos estar liderando.

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