A Toyota confirmou aquilo que já era especulado nos bastidores da indústria automotiva: a produção da Hilux elétrica será na Argentina, com início previsto até 2026. A picape 100% elétrica vai marcar a entrada definitiva da montadora japonesa no mercado global de veículos elétricos, colocando a América do Sul no mapa da eletrificação. Mas não o Brasil.
A decisão de escolher a unidade de Zárate, na Argentina, reacende um velho debate: por que o Brasil, maior economia da região e principal mercado da Toyota na América Latina, ficou de fora?
A escolha da Argentina não foi um acaso. A Toyota analisou questões estratégicas, fiscais e geopolíticas antes de tomar a decisão. Eis os principais fatores:
A planta argentina de Zárate já fabrica a Hilux com motor a combustão, o que facilita a transição tecnológica e logística para o modelo elétrico. A base produtiva está pronta, bastando modernizações - algo mais barato e rápido do que instalar uma fábrica do zero no Brasil.
Apesar da crise econômica, a Argentina tem oferecido pacotes agressivos de incentivos à indústria automotiva, incluindo:
Reduções de impostos de importação para componentes de veículos elétricos.
Subsídios à energia elétrica.
Acordos bilaterais vantajosos para exportação.
Além disso, os contratos industriais têm sido mais estáveis e previsíveis, algo que o Brasil não tem garantido nos últimos anos, com mudanças tributárias constantes e uma política industrial errática.
No Brasil, a carga tributária, o custo logístico e a burocracia ainda são entraves sérios à atração de investimentos produtivos. Enquanto isso, a Argentina oferece, mesmo em crise, um pacote coordenado de incentivo à produção industrial com foco em inovação.
Sem rodeios: sim. O Brasil poderia ter sido o hub Sul-americano da transição energética automotiva, mas perdeu mais uma vez para um concorrente com menos musculatura econômica, mas mais coordenação institucional.
Além disso, a ausência de uma política nacional robusta de incentivo a veículos elétricos joga contra o país. Enquanto isso, China, Estados Unidos e até a Argentina já estão com planos industriais claros e investimentos direcionados.
A decisão da Toyota tem efeito dominó na geopolítica industrial da América do Sul:
Argentina ganha protagonismo industrial e tecnológico.
Brasil corre o risco de virar apenas mercado consumidor, sem papel relevante na cadeia produtiva de veículos elétricos.
O Mercosul pode se reposicionar, com a Argentina liderando os projetos de transição energética no setor automotivo.
Empresas globais podem seguir o mesmo caminho, optando por investir em países com políticas mais claras e menos instabilidade tributária.
Tem, sim - e muita. A Toyota quer fugir das tarifas americanas sobre produtos fabricados na Ásia, que foram elevadas sob Trump e podem continuar mesmo com um novo governo. Produzir na América do Sul permite exportar ao mercado norte-americano com menor custo e menos barreiras, via acordos bilaterais e triangulações comerciais.
Sim. A Toyota tem um plano ambicioso de lançar 15 modelos elétricos até 2027. A Hilux elétrica inaugura a linha Sul-americana, mas a tendência é que outros modelos sejam produzidos na região, dependendo da infraestrutura e incentivos de cada país.
A nova Hilux terá versões:
100% elétrica (BEV)
Híbrida leve (mild hybrid)
Híbrida convencional
A combustão (gasolina, diesel e GNV)
Movida a hidrogênio (em testes)
A ideia da Toyota é atacar todos os segmentos, desde o urbano até o rural e industrial, oferecendo opções com menor emissão de carbono.
A decisão da Toyota escancara um problema estrutural: o Brasil continua refém de uma política industrial atrasada, sem foco em inovação e sem clareza para investidores globais. A eletrificação da frota global não vai esperar Brasília se organizar.
Se o país quiser participar da nova era automotiva, vai precisar:
Rever seus modelos de incentivo
Simplificar sua carga tributária
Investir pesado em infraestrutura elétrica e mobilidade sustentável
Criar segurança jurídica para atração de indústrias de alta tecnologia
Enquanto isso não acontece, ficaremos assistindo pela janela a transformação que poderíamos estar liderando.
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