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Do direito ao crime: advogado é preso por associação ao narcotráfico no Piauí

Investigado por transportar armas, drogas e membros de facção criminosa, Humberto Chelotti teve a prisão temporária mantida pela Justiça, evidenciando um preocupante desvio na advocacia

08/03/2025 às 10h50
Por: Redação
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Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

A fronteira entre o exercício da advocacia e o crime organizado parece cada vez mais tênue. No Piauí e em diversas regiões do Brasil, tem-se tornado frequente a prisão de advogados não apenas por defender criminosos, mas por atuarem diretamente no narcotráfico, facilitando a circulação de drogas, armas e integrantes de facções. O caso mais recente envolve Humberto Chelotti Gonçalves, de 46 anos, detido na última quinta-feira (06) sob acusação de tráfico de drogas e associação criminosa.

A prisão aconteceu na Delegacia Seccional de Luís Correia, no Litoral do Piauí, durante o cumprimento de um mandado de prisão temporária. Segundo as investigações da Polícia Civil, Chelotti, conhecido no meio criminoso como “Doutor”, seria responsável por transportar armas, entorpecentes e membros da facção Tudo Neutro (TDN), ligada ao Primeiro Comando da Capital (PCC), que atua no Piauí e no Ceará. Essa organização criminosa esteve envolvida em uma série de homicídios em novembro de 2024, no povoado de Barra Grande, em Cajueiro da Praia.

Ligado ao crime organizado

Em dezembro de 2024, Chelotti foi flagrado ao tentar dar fuga a membros da TDN envolvidos nesses homicídios. Na ocasião, ele justificou que apenas realizava uma corrida para os passageiros. No entanto, investigações subsequentes revelaram fortes indícios de seu envolvimento direto com a facção e com o tráfico interestadual de drogas, abrangendo os estados do Ceará, Maranhão e Piauí.

Apreensões e provas

No momento da prisão, os agentes apreenderam um celular, que será periciado, e uma Toyota Hilux SW4, veículo utilizado pelo grupo criminoso para o transporte de drogas. No interior do carro, os policiais encontraram uma pequena porção de maconha, supostamente para uso pessoal do advogado.

Defesa tenta relaxamento da prisão

A defesa de Chelotti solicitou o relaxamento da prisão, argumentando falta de requisitos legais para a detenção temporária, ausência de fundamentação idônea e inexistência de periculosidade do réu. Foi pedido ainda que, caso a prisão não fosse revogada, ela fosse convertida em domiciliar com monitoramento eletrônico, devido à suposta falta de estrutura adequada para custódia de um advogado.

Justiça nega pedido e mantém prisão

Na audiência de custódia realizada na sexta-feira (07), o juiz Caio Emanuel Severiano Santos e Sousa negou o pedido de relaxamento e homologou a prisão temporária. Em sua decisão, o magistrado afirmou que a prisão foi decretada por autoridade competente e que não havia qualquer ilegalidade formal no caso.

Entretanto, foi concedida ao advogado a prerrogativa de ser custodiado em uma sala de estado maior, conforme garantido pelo Estatuto da Advocacia.

A crise na advocacia e o crime organizado

A detenção de advogados por envolvimento com o crime organizado revela uma crise ética e institucional dentro da profissão. O uso indevido das prerrogativas da advocacia para encobrir atividades criminosas mancha a imagem de um ofício essencial à Justiça. O caso de Humberto Chelotti não é isolado e reforça a necessidade de maior fiscalização da atuação de profissionais do direito, garantindo que a função de defensor da legalidade não se torne um disfarce para a impunidade e o crime.

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