O governo Lula 3 parece ter esquecido as raízes do seu maior reduto político: o Nordeste. Ao longo de duas décadas, a ferrovia Transnordestina se arrasta como símbolo do descaso federal com a região. Mesmo prometida como espinha dorsal do desenvolvimento econômico do semiárido, a obra segue em ritmo moroso, com repasses pífios e uma população cansada de esperar promessas que nunca chegam aos trilhos.
Em 2025, a Transnordestina deveria receber R$ 1,81 bilhão para avançar sua malha ferroviária. Até agora, foram liberados apenas R$ 400 milhões — menos de 22% do previsto. Isso, num governo que não economiza para bancar mordomias de Brasília ou para liberar bilhões em emendas que compram votos no Congresso. Por que o mesmo ímpeto não se aplica para concluir uma ferrovia que pode transformar a logística e a economia do Nordeste?
De todas as gestões petistas, esta é a que menos investiu no Nordeste. Em vez de acelerar a conclusão da ferrovia que ligará Eliseu Martins (PI) ao Porto do Pecém (CE), beneficiando diretamente três Estados e mais de 50 municípios, o governo empurra as obras com a barriga, deixando a cargo da concessionária — subordinada à CSN — a tarefa de segurar o ritmo e administrar a frustração.
Hoje, os trabalhos seguem em apenas cinco lotes, com previsão para entrega da fase 1 somente em setembro de 2027. Atraso atrás de atraso faz da Transnordestina uma obra de 20 anos que, na prática, ainda está pela metade. Para completar, o cronograma financeiro depende de burocracias intermináveis: a Sudene ainda analisa o repasse de R$ 600 milhões do FDNE e outros R$ 816 milhões do extinto Finor aguardam sanção presidencial.
Enquanto os desembolsos patinam, a empresa responsável afirma que ainda não faltou recurso — mas admite que “não pode faltar” daqui em diante. A verdade, porém, é que a ferrovia já consumiu mais de R$ 7 bilhões em investimentos, sem entregar sequer um quilômetro pronto para operar comercialmente.
A pergunta é inevitável: se não falta dinheiro para políticas supérfluas, por que um projeto estruturante para o povo nordestino, com potencial para gerar até 8 mil empregos diretos e revolucionar a logística da região, fica em segundo plano?
A Transnordestina foi concebida para escoar calcário, combustíveis, fertilizantes, cimento, contêineres e produtos agropecuários, além de estimular o desenvolvimento econômico do interior. No entanto, ela se tornou um símbolo de incompetência administrativa. Os trilhos não avançam no ritmo que o Nordeste merece, enquanto a miséria e o desemprego seguem trilhas bem mais rápidas.
Lula deve ao povo nordestino explicações claras: por que tanto descaso? Falta visão estratégica? Ou sobra desprezo por uma região que, fiel ao PT nas urnas, continua sendo tratada como curral eleitoral sem contrapartidas?
O Nordeste cansou de ser tratado como segundo, terceiro ou quarto plano. Ou o governo federal assume sua responsabilidade com a região que o sustenta politicamente, ou pagará caro por sua apatia nos próximos pleitos. É hora de tirar o projeto da gaveta e fazer os trilhos finalmente chegarem onde o povo merece.
Enquanto isso, a Transnordestina segue como está: uma locomotiva emperrada pela má vontade política.
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