Em tempos de festas de formatura lotadas, músicas ensaiadas e capelos lançados por dezenas de mãos, Isadora Rezende, de apenas 21 anos, viveu uma experiência rara e simbólica: se formou completamente sozinha.
A estudante foi a única formanda na cerimônia de colação de grau da turma de Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia (BICT) com especialização em Engenharia de Produção na Universidade Federal de Lavras (UFLA), em Minas Gerais.
No palco, o juramento foi só dela. O discurso, também. Até a tradicional homenagem aos pais teve como único foco o casal Rezende. A cena, inusitada e tocante, rapidamente viralizou nas redes sociais, principalmente no TikTok, onde a própria Isadora compartilhou vídeos com bom humor e orgulho da conquista solitária.
“Eu sabia que ia ser a única que ia fazer o discurso, o juramento, lavar o banheiro se precisasse”, brincou ela, rindo da situação.
Apesar da estranheza inicial, o motivo é bem simples - e também revelador sobre o modelo pedagógico da universidade.
A UFLA adota um sistema de dupla formação, dividido em duas etapas:
Etapa inicial (três anos): formação básica em ciência e tecnologia;
Etapa de especialização (dois anos): escolha da área de engenharia (produção, elétrica, civil, etc.).
Isadora foi a única da sua turma a escolher Engenharia de Produção. Além disso, foi a única a passar direto em todas as disciplinas, sem reprovações ou atrasos. Por isso, se formou sozinha, sem companheiros de banca ou de festa.
Pela conquista, Isadora recebeu uma Menção Honrosa, sendo reconhecida como a primeira aluna a concluir o curso com essa combinação de formação. Embora estivesse sozinha no palco, o feito não passou despercebido pela universidade.
O momento, inédito na UFLA, foi simbólico não apenas por ela ser a única formanda, mas também por mostrar como dedicação, foco e organização acadêmica ainda têm espaço e reconhecimento, mesmo em tempos em que a vida universitária muitas vezes é atropelada por greves, dificuldades financeiras, saúde mental e evasão.
A história de Isadora provocou repercussão nacional, colocando a UFLA nos holofotes não por algum escândalo, mas por um exemplo de perseverança acadêmica.
Nas redes, milhares de comentários elogiaram a postura e o bom humor da estudante. Muitos se identificaram com os desafios de terminar um curso superior sem DP, e outros relataram histórias semelhantes de formaturas solitárias ou turmas reduzidas.
A própria universidade celebrou o feito, vendo nele uma oportunidade de valorizar a estrutura de formação oferecida e também reforçar o compromisso com o ensino de qualidade.
Não é comum - mas não é inédito. Universidades federais que adotam sistemas de formação por módulos ou ciclos (como a UFLA ou a UFABC) podem ocasionalmente gerar turmas com poucos ou mesmo apenas um formando, especialmente em cursos com múltiplas ênfases e caminhos.
Contudo, é extremamente raro que esse formando também seja o único a passar direto por todo o currículo, sem reprovações ou trancamentos.
Por isso, a história de Isadora não é apenas sobre estar sozinha. É sobre chegar na frente, superando todas as etapas com mérito.
O caso de Isadora é um sopro de inspiração e uma provocação sobre o valor da disciplina, organização e foco, mesmo em um sistema universitário público muitas vezes precarizado.
Mais do que uma curiosidade, sua trajetória é um lembrete poderoso: não é o número de colegas que define uma conquista, mas o caminho trilhado até ela.
Sozinha no palco, mas acompanhada por milhares que agora a admiram, Isadora Rezende é, sem dúvida, uma formanda inesquecível.
Mín. 23° Máx. 35°