Durante anos, o centro de Teresina foi dominado por um tipo específico de criminoso: as chamadas “lanceiras” - mulheres especializadas em furtos rápidos, habilidosas em tirar carteiras e objetos de valor das bolsas de transeuntes sem que percebam. A maioria dessas criminosas vinha de Timon, cidade maranhense vizinha à capital piauiense, numa dinâmica constante de travessia de fronteiras estaduais para o exercício da atividade ilícita. Agora, com o cerco apertado pela polícia no Piauí, essas criminosas migraram - e, com elas, levaram também a insegurança.
A recente prisão de três mulheres em Caxias, no Maranhão, escancara uma verdade inquietante: o crime se adapta, se move e se espalha. O trio, com passagens por crimes semelhantes em Teresina, foi capturado já na mira da Polícia Civil, que agia com base em mandados de prisão preventiva. O que antes era um problema concentrado no coração comercial da capital piauiense agora começa a ser exportado para outras cidades do Nordeste, como uma epidemia que se espalha quando não é contida na origem.
O mais alarmante é que, em muitos casos, estamos diante de redes familiares de criminosos. Em Teresina e Timon, é sabido que há famílias inteiras envolvidas em esquemas de furto - mães, filhas, irmãs e cunhadas operando como células de uma criminalidade organizada e invisível, que se infiltra na rotina urbana. São grupos que, por conhecerem o sistema de justiça, agem com frieza e eficiência. Sabem que se forem pegas em flagrante, muitas vezes não ficam presas por muito tempo.
Esse fenômeno da “migração do crime” revela falhas estruturais nos sistemas de segurança pública estaduais e municipais. É necessário ir além da prisão pontual e pensar em ações articuladas entre estados, com inteligência policial compartilhada, monitoramento de reincidentes e, sobretudo, políticas que desmobilizem essas redes criminosas. Reprimir o crime apenas localmente não é suficiente. Ele simplesmente muda de CEP.
Outro ponto que precisa ser levantado com coragem é: por que tantas mulheres, especialmente jovens, ingressam nesse tipo de crime? Há uma resposta incômoda, mas real: ausência de oportunidades. A criminalidade não é apenas um problema de polícia, é também uma consequência direta de desigualdades sociais, da falta de inclusão produtiva e da falência de projetos de ressocialização.
A pergunta que fica é: o que as autoridades farão agora que essas “lanceiras” estão se espalhando por novas cidades, levando insegurança aonde chegam? A população de Teresina pode até respirar aliviada por ora, mas Caxias, Parnaíba, Floriano ou qualquer outra cidade do interior nordestino pode estar na mira dessas redes criminosas. Se não houver uma resposta firme, articulada e inteligente, o problema deixará de ser pontual para se tornar crônico em toda a região.
É preciso mais que sirenes. É preciso estratégia.
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