A morte brutal das irmãs influenciadoras Maria Beatriz e Bianca dos Santos, baleadas na noite da última quinta-feira (1º) em Fortaleza, não apenas chocou pelas circunstâncias cinematográficas do crime - executado por criminosos que chegaram pelo mar em jet ski e bote a motor - como também desencadeou um rastro de violência ainda mais explícita. Horas após a execução das jovens, cinco pessoas foram baleadas em um campo de futebol no mesmo bairro. A motivação? Vingança. E, segundo a Polícia Civil do Ceará, o mandante da represália foi Antônio Victor de Araújo Ferreira, conhecido como "Moscou", namorado de Bianca, a influenciadora de 15 anos que estava grávida de dois meses.
Quem é Antônio Victor, o "Moscou"?
Antônio Victor é mais do que um influenciador digital com quase 3 milhões de seguidores no Kwai. De acordo com a investigação, ele ocupa posição de respeito e liderança informal na facção criminosa Guardiões do Estado (GDE). Seu papel na organização é reforçado pela influência nas redes sociais, onde promove conteúdos que, segundo a polícia, favorecem a imagem da facção. O relatório policial afirma que, por esse prestígio, ordens de Moscou dentro da GDE seriam prontamente executadas - especialmente em casos de vingança como o atual.
Por que ele ordenou o ataque?
A motivação, segundo o inquérito, foi emocional e territorial: vingança pela morte da namorada grávida e de sua cunhada. Embora o assassinato das irmãs ainda esteja sob investigação, o fato de o ataque ter ocorrido na Vila do Mar - área de disputa entre GDE e o Comando Vermelho (CV) - indica possível envolvimento da facção rival. Horas após o duplo homicídio, Moscou teria ordenado um atentado em território dominado pelo CV, mais precisamente no Campo do Cruzeiro. Não havia alvos específicos. O objetivo era espalhar o terror.
As vítimas do campo de futebol correm risco de morte?
Cinco homens foram baleados no ataque. Três deles estão em estado grave. As identidades divulgadas revelam idades entre 25 e 68 anos, o que indica que o atentado não distinguiu alvos: foi um ataque generalizado e desproporcional. As vítimas foram levadas a hospitais da região e seguem sob cuidados médicos intensivos.
Quem mais foi preso?
Além de Moscou, outro homem foi preso: Igor Rodrigues da Cruz, de 28 anos, localizado após dar entrada no IJF com um tiro nas costas. Em depoimento, ele admitiu participação no atentado ao campo de futebol, embora alegue que não chegou a atirar. Igor já tinha antecedentes criminais por roubo de veículo e corrupção de menores. Ele permanece internado sob escolta policial.
E a morte das irmãs? Qual foi a motivação?
A Polícia ainda apura a motivação exata da execução de Maria Beatriz e Bianca. A atuação em redes sociais e a popularidade das irmãs - com mais de 1 milhão de seguidores - não livraram as jovens da mira dos criminosos. O que se sabe até o momento é que o ataque foi coordenado com alto grau de planejamento, com invasão pela orla marítima e fuga rápida. Bianca era o elo direto com Antônio Victor, o que alimenta a hipótese de que o ataque tenha sido uma retaliação de facção rival à GDE. A dúvida que paira é: as meninas eram de fato os alvos ou estavam no lugar errado, na hora errada?
O que deve acontecer a partir de agora?
Com a conversão da prisão em flagrante para preventiva, Moscou deve permanecer preso durante o andamento das investigações, que agora se expandem para identificar outros envolvidos tanto no duplo homicídio das irmãs quanto no ataque ao campo. A Polícia Civil também deve aprofundar a apuração sobre a atuação de influenciadores digitais no fortalecimento e propaganda das facções, um fenômeno crescente nas periferias brasileiras.
O caso revela mais do que um crime passional ou uma disputa territorial: é o retrato da simbiose entre o tráfico, as redes sociais e o espetáculo da violência. E, tragicamente, quem paga essa conta - com sangue e vidas interrompidas - é sempre a população das periferias urbanas, onde facções ditam leis, vinganças e execuções ao sabor do próprio arbítrio.
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